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Rezn - "Solace" Review

Bom! Há de facto muito a dizer sobre esta viagem mental sublime que os Rezn oferecem com Solace. Mesmo estando a chegar ao final de 2023, acho de absurda importância dar realce a um álbum que, se assim o permitirmos, nos surpreende com um psicadelismo virtuoso. 

Comecemos por contemplar o artwork da capa e falar um bocadinho do mesmo. 

Como é habitual no seu registo, Adam Burke (Nightjar Illustration) desenha e pinta tudo à mão, começando por esboçar no papel até refinar a composição e a pintar em painel de madeira; volta a desenhar e a pintar e adiciona detalhe e camadasaté finalizar. Só depois então fotografa o trabalho para acertar a cor e o contraste no Photoshop, até o formato digital ficar na sua melhor versão. Tudo isto após uma espreita auditiva às guidelines e faixas fornecidas pelos Rezn de antemão. Segundo Adam, não lhe foi complicado desenvolver uma composição que mantivesse a sua assinatura e traço e que ao mesmo tempo encaixasse no pretendido pela banda, já que este tipo de paisagem é algo bastante comum nas suas criações. Não é demais dizer que dá uma boa introdução visual ao conteúdo que apresenta e que se nota bem que o artista foi a escolha certa para este trabalho, conseguindo alinhar perfeitamente o que os olhos vêem com o que os ouvidos ouvem, ao saborearmos cada pedacinho de "Solace". Muito bem conseguido!

Feitas as devidas honras ao artwork, avancemos então para esta masterpiece transcendente que apesar de gravada em Julho de 2021, foi lançada apenas este ano, com Matt Russell responsável pela produção e mixagem e Zach Weeks pela masterização. Nunca é tarde, meus amigos, nunca é tarde, e o que é bom não se faz em dois dias.

Descobri Rezn por acidente, como sugestão automática do youtube quando a playlist de Electric Wizard chegou ao fim e foi das melhores surpresas do tipo. Os Rezn têm aquele tipo de som que nos deixa na dúvida se nos deram uma bebida com aditivos ou se o cigarro que acabámos de fumar não estaria adulterado, porque... "I'll be damned"! Que viagem! Desde as linhas de guitarra e riffs prolongados de Rob McWilliams que arrastam o raciocínio para todo o tipo de alucinações e questões existenciais, às notas de flauta, saxofone e sintetizador/piano aplicados por Spencer Oulette, qualquer um se perde no que está a acontecer a partir do momento em que carrega no play. E sim, eu sei que tudo o que menciono aqui são lugares comuns no stoner/doom psicadélico, como o próprio nome indica. Mas vá lá... é preciso admitir que estes quatro músicos o fazem de uma forma excepcionalmente imaculada, com óptimo flow, características estas que são presença certa em todos os trabalhos da banda.

"Solace" inicia a viagem com "Allured by Feverish Visions", uma faixa instrumental etérea de mais de 7 minutos para abrir as portas a um paraíso de leveza de espírito. Suave como uma nuvem nas suas notas de flauta e sintetizador omnisciente, guitarras médias a passar por territórios do Médio Oriente, bateria a um ritmo lento e baixo coeso, sempre na mesma linha. Ao chegar aos 3 minutos começa a abrir em riffs distorcidos e arrastados pelo ganho, mas sem nunca deixar explodir em peso total. Quase parece uma tempestade que ameaça mas não chega a libertar a tensão em todo o seu esplendor. Quando os riffs extasiantes ressoam, volta à leveza, num vai-e-vem delicioso.

Segue-se "Possession", na qual os vocais melódicos ecoam de ouvido em ouvido. Para quem é mais fã do registo de Rezn no Chaotic Divine ou em Let It Burn, faixas como esta, ou até mesmo todo o Solace, podem parecer desiludir e eu entendo porquê. A relação entre o peso e a melodia é mais comedida e penso que a melodia ganha um nadinha mais de espaço. No entanto, acho que se pode dizer que ambos se completam no desenvolvimento das faixas e do álbum no geral. A melodia de "Possession" dá lugar a riffs puxados do Doom, pesados e implacáveis que continuam em "Reversal". Aqui deparamo-nos com uma versatilidade incrível, uma faixa rica em riffs das profundezas da Terra e passagens atmosféricas que sabem quase tão bem quanto uma "Space Cookie" generosamente temperada. A letra também é de sublinhar e se tivesse de escolher o filho prodígio de "Solace", sem duvida seria esta terceira faixa, que fecha com a guitarra a trazer notas médio orientais mais uma vez.

"Stasis" chega com um ambiente mais groovie em mais de 7 minutos de viagem celestial - "I lose myself again" literalmente! Os seus segundos finais fazem uma conexão excelsa com a sua sucessora, "Fading and Fleeting", fazendo com que quase não se perceba onde acaba uma e começa a outra, e é inevitável... assim que o saxofone domina o espaço sideral desta música, parece que caímos numa faixa oculta de Pink Floyd em esteroides. 

"Webbed Roots", é mesmo um real desespero pacífico nas profundezas da mente que fecha "Solace" em camadas e camadas de sons e ambiente, riffs pesados, melodias médio orientais, psicadelismo e profundidade que perdura no ar, congelada no tempo - perfeita para finalizar. 

Um adjetivo que escolho para descrever esta experiência em forma de álbum? E vou-me repetir: Virtuoso! Estou a adorar cada pedacinho dele, cada pepita alucinante neste muffin musical com aditivos estranhos. 

É notável o jogo de cintura dos músicos e até custa a acreditar que Rezn seja uma banda que ainda passa tão despercebida.

 Embora não seja o álbum mais pesado da sua colecção, na minha opinião é o mais sólido, mantendo a assinatura de Rezn sem qualquer dificuldade. 

Nota: 8.9/10

Review por Alexandra Crimson