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Steve Von Till - "Alone in a World of Wounds" Review

Alone in a World of Wounds é um álbum melancólico em que a voz de Steve Von Till está sempre no centro da música, acompanhado na maior parte das vezes apenas por cordas. A bateria e baixo só surgem no quarto tema, “Distance”, e apenas por breves segundos, o que indica que estamos perante um registo que aproxima o artista americano do rock alternativo de Nick Cave and The Bad Seeds do que propriamente o seu registo mais folk de A Grave is a Grim Horse.

Logo em “The Corpse Road” o ouvinte é remetido para “Jesus Alone” de Nick Cave and The Bad Seeds (do álbum Skeleton Tree) com a voz acompanhada apenas por cordas. É um tema melancólico e belo em que a voz de Steve Von Till parece flutuar acima das cordas em vibrato quase constante, o que cria um certo desconforto, como se o chão corresse o risco de desparecer por debaixo de nós.
Segue-se “Watch Them Fade”, com as cordas a acompanhar a voz uma vez mais. É um tema mais poderoso que o anterior graças à entrega de Steve Von Till à letra: “I can’t and I won’t watch them fade”. A sua voz quase se aproxima da voz rouca e poderosa de Mark Lanegan (Screaming Trees e Queens of The Stone Age). O piano é o principal instrumento em “Horizons Undone”, até que entra a guitarra arpejando, enquanto as cordas vão acentuando o primeiro tempo de cada compasso da bridge. O arranjo aqui, assim como na maioria dos temas é sublime na forma como cada instrumento é introduzido e usado, sempre com espaço para a voz e para momentos de silêncio, como se estivéssemos perante um disco produzido por Manfred Eicher (principal mentor da produção da editora ECM). Por exemplo, “Distance” introduz sopros pela primeira vez no disco para um momento de breve luminosidade no meio da escuridão que rodeia a letra que é entoada de forma melancólica e triste. “Calling Down Darkness” é o tema mais longo do álbum, com o piano a pontuar a letra enunciada, e com pedal steel a dar uns apontamentos pontuais, mas preciosos. É logo seguido pelo tema mais curto, “The Dawning of the Day (Isomnia)”, que é mais narrado que cantado, sempre com voicings elegantes de piano a acompanhar.
Numa ocasião rara neste registo, “Old Bent Pine” recorre a distorção, mas que parece sair de um rádio, assim como sintetizadores para acompanhamento; à medida que o tema progride, a voz de Steve Von Till parece dissolver-se no ambiente desconcertante.

Pode-se concluir que há uma certa beleza na melancolia, e com Alone in a World Of Wounds temos o equilíbrio perfeito na forma como a instrumentação e voz mantêm um ambiente melancólico e a beleza da música sempre presentes. Desde a abertura com “The Corpse Road” até ao final com “River of No Return” temos uma viagem elegante e sombria. Neste último tema, todos os instrumentos estão com delay e o final do álbum soa quase como um elogio fúnebre.

Nota: 9/10

Review por Raúl Avelar