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Reportagem: 14º SWR Barroselas Metal Fest - 29 Abril / 1 Maio 2011

29 de Abril - 1º Dia

Durante pelo menos 3 dias, todos os caminhos vão dar ao Minho, mormente a Barroselas, uma sossegada freguesia de Viana do Castelo que recebe há 14 anos o «Steel Warriors Rebellion». Em «jogo», estavam à partida mais de 40 bandas, umas de maior renome, outras que se estão ainda a dar a conhecer, mas todas com um propósito: oferecer às larguíssimas centenas de fiéis um fim-de-semana onde sonhos se concretizassem, e episódios invadissem a memória para lá se eternizarem. E assim foi. Sem tempo a perder, quando as portas se abriram no primeiro dia, já o espírito único de Barroselas era bem visível. O local, as condições técnicas, o ambiente: tudo estava pronto para o «pontapé de saída» para 3 dias de peso.

(Nota: Desde já, desculpamo-nos perante o leitor, as bandas e organização, por nem todas terem registo fotográfico. Por vezes o material prega partidas e vai desta para melhor sem avisar. Certamente compreenderão. Gratos.)
Coube aos locais Mr. Miyagi, e ao seu irrequieto vocalista, a tarefa de abrir o palco #1. Com vista para um recinto já muito bem composto, destilaram punk sem compromissos, e com a sujidade dos 80’s. Depois de há dias terem partilhado palco com os D.R.I., eis mais uma montra importante para a banda de Viana. Para princípio de «conversa» foi agradável e o público reagiu bem.
Os dois palcos funcionaram, como habitualmente, em modo de alternância, e era a vez dos Alchemist tocarem, desta feita no palco mais pequeno (o #2). O trio teve uma boa prestação através do seu Black Metal rockeiro e musculado, com vários momentos celtic frostianos de grande qualidade. Certamente conquistou novos fãs e não desiludiu os que já o eram.

O primeiro concerto internacional do festival foi protagonizado pelos norte-americanos Cough, que lançaram um dos bons álbuns do ano passado. Sludge/Doom com intensidade e harmoniosamente negro, foi aquilo que nos ofereceram, mas parece funcionar melhor em disco. Nada que tenha a ver com a atitude da banda que foi sempre bastante dedicada, nem com questões técnicas. Simplesmente tem outra carga emocional.

Os Bleeding Fist entraram em palco com velas e cabeças animais empaladas. Parecia algo ritualesco, mas acabou por ser estranho. Musicalmente foi interessante, mas o seu conceito de BM de palco é discutível. O modo de estar ‘grindcore’ do baixista foi atípico, e embora visto muitas vezes o arremesso dos animais foi desconfortável.

Um concerto diferente foi o dos Menace Ruine, sozinhos no cartaz, nomeadamente após o cancelamento de Dragged Into Light. Dois membros (e a senhora que tinha um aspecto tão frágil…), e sintetizadores, criaram uma atmosfera densa e carregada, capaz de perturbar o nosso íntimo. Transportar o Drone para concerto é arriscado e coloca à prova a paciência do Homem, mas deu a sensação de agradar aos muitos que os viram envolvidos pelo fumo e o azul.

Os We Are The Damned personificaram a revolta durante a sua actuação. Temas rápidos, pujantes, bons riffs, e a surpresa “Into The Crypts of Rays” de Celtic Frost, com a participação de N.H. (Corpus Christii), culminaram na primeira grande interacção entre banda e público. Estão em grande forma, muito sólidos e só ganharam com a mudança feita, há tempos atrás.

Os Voivod eram uma das principais atracções deste primeiro dia. Infelizmente o som esteve altíssimo, fazendo tudo tremer e saturando quem estava na plateia. Apesar disso, o Thrash Metal que celebrizou estes senhores, trouxe movimento a inúmeras gadelhas, e a notória boa disposição e à vontade ajudou a uma performance positiva.

Imediatamente a seguir, no palco secundário (mais pequeno mas que contou, em geral, com melhor som), os Dishammer. Barroselas acolheu uma assinalável comunidade espanhola e foi visível o interesse com que viveram o concerto dos compatriotas. Crust sem misericórdia, sempre a abrir, e o mosh a acompanhar. Não é nada de novo, mas ao vivo é sempre uma festa que o público recebe de braços abertos. Foi o rock!

Não havia cansaço que colocasse em causa a devoção a Ratos de Porão, os headliners do primeiro dia. Com o espaço quase repleto (nenhum dos dias esgotou), havia a expectativa de ver quão grande seria o circle pit e que níveis de violência atingiria o concerto dos brasileiros. A resposta foi demolidora. A sucessão de clássicos e a homenagem a Phil Vane (Extreme Noise Terror), não defraudaram os fãs, e de princípio a fim a roda não parou de girar freneticamente, e o pó ergueu-se sob os desígnios do carismático João Gordo. No dia seguinte, muitas nódoas negras seriam reveladas.


No findar da noite, os Vai-te Foder substituíram os finlandeses Tinner. O grupo bracarense deu continuidade à agressão e ao caos que os brasileiros tinham desencadeado antes, encerrando de forma veloz, pútrida e em bom português a mais curta de três jornadas metálicas, nas margens do Rio Neiva.



Texto por Carlos Fonte

Fotografia por Inês Fonte