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Cult Of Luna - "Vertikal" Review


Depois de uma ausência que se torna sempre longa para os die-hard fãs do colectivo escandinavo, eis que  2013 começa da melhor forma. O tão aguardado "Vertikal" é oficialmente lançado a 29 de Janeiro, data do segundo concerto da banda em Portugal (em Lisboa, no dia anterior tocam no Porto) e não irá desiludir nenhum dos fãs mais exigentes da banda. Tal como aconteceu com "Eternal Kingdom" do já distante ano de 2008, o que temos aqui é um álbum conceptual que se apoia na obra prima de Fritz Lang, o filme mudo de ficção ciêntífica de 1927 que é um marco da história do cinema, muito à frente do seu tempo.

O que é mais importante em álbuns conceptuais é a capacidade de conseguirem mergulhar o ouvinte (ou não) nos seus conceitos, onde a música e a história que os sustentam se unem e conseguem subir a um . outro nível. É exactamente o que temos aqui. O ambiente industrial que a intro "The One" tem, puxa imediamente o ouvinte para uma série de imagens envolvendo maquinaria, um feeling de frieza maquinal que é quebrada pela entrada de uma das grandes malhas deste álbum - "I: The Weapon", que consegue misturar a agonia e o desespero do peso da responsabilidade das próprias acções com a leveza e intensidade de um simples fascínio de um homem pela mulher em nove minutos de beleza e intensidade rara.

Se por esta altura ainda existissem limites, eles caíriam por terra, quando à terceira faixa temos um épico de quase vinte minutos, que começa com os sintetizadores a marcar o ambiente mais uma vez. Esta opção nunca foi estranha na banda, mas agora revela-se totalmente essencial para fazer com que as imagens transmitidas o sejam com mais eficácia e força. Os minutos vão passando e o desconforto frio de um futuro inumano vão-se acumulando, até que por volta dos cinco minutos, uma melodia começa-se a formar, mais uma vez uma melodia que traz alguma esperança mas não demora muito até que a opressão volte novamente, até se juntarem as duas, com peso suficiente para abanar este mundo. Incrível como uma música pode subir cada vez mais de intensidade, surpreendendo a cada minuto que passa. Agarrando pelos ouvidos a cada minuto que passa. O solo no final não poderia ter mais feeling e emoção. Sem esquecer a melancolia opressiva que já se espera dos Cult Of Luna.

"The Sweep" é mais uma faixa instrumental com feeling industrial à base de sintetizadores que continua a marcar o ambiente necessário para o conceito. "Synchronicity" tem o ritmo de uma bomba relógio prestes a explodir nas mãos daqueles que julgam estar acima de todos os outros, uma bomba relógio humana, dentro de todos aqueles que são explorados como se fossem máquinas. Um ritmo que tanto tem de orgânico como de maquinal, e que hipnotiza por cerca de sete minutos. "Mute Departure" começa com uma espécie de drone, fruto de mais experiências com teclados, e com um feeling vintage no que à música electrónica diz respeito. A voz suave ajuda a que, mais uma vez, o ouvinte seja hipnotizado e se deixe afogar lentamente num futuro sem esperança para o homem comum.

"Disharmonia" é uma curta peça de sintetizador que abre o caminho para "In Awe Of", talvez a faixa com o riff mais marcante e que de certeza de que será presença assídua ao vivo. É também a que tem a melodia mais reconhecível. Uma grande malha, e embora seja algo ingrato de se dizer (já explico porquê), uma das melhores do álbum, que é encerrado com "Passing Through". Um final adequado, algo contemplativo mas perfeito, usando e abusando do efeito hipnótico mais uma vez, como um loop a rodar que não queremos que pare nunca. Até que termina.

É ingrato escolher as melhores faixas deste "Vertikal" porque todas têm a sua razão de ser, todas têm o seu sentido. E todas devem ser ouvidas. Pela ordem indicada. Separadas não deixam de ser grandes malhas, mas juntas conseguem atingir um sentido superior. Se há algo que parece menos bem conseguido, ou melhor, estranho, é o simples facto de os sintetizadores estarem no centro, o que considerando o conceito, faz todo o sentido. No entanto, para uma banda com três guitarristas, por vezes parece que é o instrumento menos valorizado nestas composições. Este é um ponto minúsculo porque se o resultado final é este, foi um sacrifício que teve que ser feito para que tal pudesse ser atingido. A bem do conceito e a bem da obra-prima que é este álbum. Ainda estamos em Janeiro e é possível de afirmar que este será sem dúvida um dos álbuns do ano.

 

Nota: 9.5/10

Review por Fernando Ferreira