Visions of Atlantis. Haverá banda que melhor personifique tudo o que de mau vai no female fronted metal? Ethera é portanto a 5ª, e porventura derradeira, tentativa para o colectivo austríaco conseguir ser levado a sério, depois de no passado nos ter presentado com alguma da música mais chata e previsível que este estilo alguma vez nos ofereceu.
Mas vá se lá saber como, ou para que santinho Atlântico dirigiram as suas preces mas... Conseguiram. É verdade, Ethera não sendo propriamente uma obra de proporções gigantescas, é um disco muito agradável de se ouvir. Claro que aqui e ali ainda se encontram um ou outro tema menos conseguido, como seria de esperar, mas pelos vistos longe vão os tempos da pimbalhada de Lost e aqueles riffs reciclados de Edenbridge, que até já na banda de Sabine Edelsbacher e Lanvall começam a cheirar mal.
O tema a meio tempo The Ark, logo a abrir, traz aquilo que sempre faltou aos Visions of Atlantis, verdadeiras linhas vocais que consigam transpor emoção nas suas composições, e nem sequer é o refrão que melhor espelha essa evolução, mas sim a maneira dramática como a menina Maxi Nil entoa as estrofes. Logo de seguida, Machinage mantém a bitola de qualidade, oferecendo-nos o lado mais power da banda bem como a garra da vocalista, e agora sim com um refrão de referência, porventura o melhor do disco.
Com efeito, nunca é demais referir o papel de Maxi Nil, que se perfila mesmo como o grande abono de família da banda, uma vocalista mais interessada em dar vida e personalidade à música do colectivo, do que propriamente tentar ocupar o trono de Tarja Turunen, como já foi no passado (respeito no entanto à memória da malograda Nicole Bogner). Já no espectro oposto temos o outro vocalista, Mario Plank, que, enfim, a melhor prova do quanto os Visions of Atlantis evoluíram é a sua voz ser cada vez menos irritante. Está lá, mas já não chateia tanto, muito por culpa da sua parceira pois claro, e já nem mesmo as desafinações de Aeon 19th, outro grande tema, impedem que o seu registo manche em demasia este trabalho.
Hypnotized, Taluc’s Grace e o arrepiantemente intitulado Bestiality vs Integrity são outros temas dignos de realce, e a prova viva de como hoje em dia ouvir Visions of Atlantis se revela uma experiência bem mais interessante do que há uns anos atrás quando visitaram o nosso país, na altura a abrir para Epica, num concerto perfeitamente olvidável que mais não serviu do que prolongar a ansiedade em ver os holandeses em palco.
Se calhar teriam a ganhar mais em dar um chuto no rabo do vocalista e cingirem-se a Maxi Nil, afinal de contas, para conjuntos de vozes com qualidade díspar, já nos chegam os Lacuna Coil e Amaranthe. Uma boa surpresa, que merece a apreciação de mesmo quem nunca foi muito à bola com os Visions of Atlantis.
Nota: 8.3/10
Review por António Salazar Antunes