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Entrevista aos The Amenta



Os The Amenta lançam agora o seu 3º álbum de originais, “Flesh is Heir”, onde se encontram cada vez mais monstruosos e violentos que nunca. Esta é a altura perfeita para lhes fazer algumas perguntas, aqui fica a entrevista.




M.I. - Antes de mais, obrigado por terem aceitado responder às nossas perguntas. O novo álbum “Flesh is Heir” foi lançado a 22 de Março! O que podemos encontrar nele?

“Flesh is Heir” é um álbum único e muito original quando comparado com o metal extremo a nível mundial, mas também é algo novo para os The Amenta. Fomos rotulados, na minha opinião injustamente, como uma banda de industrial. Somos considerados demasiado frios, impessoais e clínicos, mas acho que este álbum vai de alguma forma corrigir essa assunção errada que têm de nós. Apesar de ainda ter as marcas características da nossa sonoridade como os riffs horrendos e retorcidos, os vocais perturbadores, a imaculada performance de bateria e a electrónica perversa e distorcida, há também uma série de novos elementos.  É um álbum mais orgânico, existe um calor humano que se enquadra nas músicas bastante bem, e no seu todo, é bastante variado. Algumas músicas são brutais e rápidas, outras mais lentas e majestosas, existem interlúdios electrónicos e um ambiente mais isolador. Penso que o “Flesh is Heir” é a representação mais honesta e verdadeira do que são os The Amenta hoje.


M.I. - Como foram os processos de composição/gravação do álbum?

Foi um processo muito mais divertido do que nos álbuns anteriores. Ao contrário do passado em que tínhamos a tendência de adicionar elemento atrás de elemento, tentamos ser muito mais directos e instintivos desta vez. Apenas nos concentramos em captar a magia do momento e quando sentimos que a tínhamos atingido, seguimos em frente, e por isso, passámos muito pouco tempo com os “cabelos em pé” de volta dos mais pequenos detalhes. No entanto, não quer isto dizer que foi um processo sem os seus desafios, visto que o álbum foi gravado e misturado inteiramente pela banda. O lado positivo disto é que conseguimos o som quente, claro e sujo que procurávamos, mas para isso, tivemos que lutar bastante. Apostamos muito neste álbum e por essa mesma razão, queríamos ter a certeza de que este fosse definitivamente o melhor que somos capazes de fazer. Em suma, isso teve os seus desafios e foi um longo processo de erros e tentativas sucessivas. O outro grande desafio que enfrentamos, foi a distância territorial entre os membros da banda. O Erik [Miehs, guitarras] e o Dan [Quinlan, baixo] ainda moram em Sydney, mas o Robin [Stone, bateria] e eu, vivemos a um par de horas da cidade e em direcções opostas entre si, pior ainda, está o Caim [Cressall, vocais], que vive em Perth, o que fica a 3 dias de carro ou a 6 horas de avião sob o deserto inóspito. Dado isto, enquanto estávamos no estúdio tivemos que arranjar maneiras de ter as partes de todos gravadas a tempo, bem como manter o nosso input fresco e relevante.



M.I. - Com o lançamento do “Flesh is Heir”, sentem que a banda está no pico da sua carreira neste momento?


Espera-se sempre que o momento após o lançamento do álbum seja um ponto alto, se não for assim, então deu-se um passo atrás. Certamente que muito críticos não iriam concordar, mas penso que a nossa carreira tem sido uma constante viagem ascendente. Estamos gradualmente a caminhar de maneira a sermos uma banda independente, de mais ninguém. Cada álbum é uma compreensão mais pura que o anterior do que são os The Amenta, estamos numa constante viagem de descoberta e procuramos sempre novas e interessantes maneiras de nos expressar a nós mesmos e descobrir métodos originais de fazer a nossa música horrorosa. Claro que se isto se traduz ou não a nível comercial, já é algo completamente diferente. É ainda demasiado cedo para saber como o álbum irá vender e a indústria mudou muito desde que lançamos algo pela última vez, no entanto, os primeiros sinais são de que este é o nosso álbum mais elogiado universalmente. Estamos bastante habituados a confundir as pessoas e até mesmo irritá-las com o nosso crescimento estilístico intencional mas, por alguma razão, este disco está a conectar-se de uma maneira mais consistente com elas. Estamos obviamente muito felizes com isso porque fazemos música somente para nós, se soubermos que fizemos um álbum honesto e houver pessoas que não gostem, estamo-nos borrifando, mas se existirem pessoas que o apreciem e o compreendam, é um bónus acrescido. Temos esperança de que este álbum nos abrirá mais algumas portas, pois procuramos sempre fazer tours e levar a nossa arte a novos destinos. Penso que este disco irá deixar muita gente de queixo caído, e espero que elas tenham a oportunidade de testemunhar o quão ferozes podemos ser ao vivo. O sucesso é algo difícil de definir nesta era dos downloads ilegais, e não é simples ver isso tendo em conta só, o número de álbuns vendidos. A única maneira é esperar pela resposta das pessoas ao álbum e à afluência nos concertos, e até agora, pelo que pudemos constatar, tem sido um grande sucesso. Queremos continuar a esforçarmo-nos para ver até onde conseguimos chegar.


M.I. - O que diferencia este álbum dos anteriores?

Eu gosto de pensar que todos os nossos álbuns são representações e expressões únicas de um determinado tempo da banda. Não somos as mesmas pessoas que eramos quando tínhamos 22 anos portanto não podemos esperar que este registo soe como o nosso primeiro álbum, “Occasus”. Crescemos tanto artisticamente como pessoalmente, das pessoas que gravaram o “n0n”, “Flesh Is Heir”, é uma “fotografia” do que somos actualmente e é óbvio que difere dos outros dois álbuns. Como disse anteriormente a grande mudança foi na maneira como trabalhámos. Usualmente criamos demos de músicas bastante esqueletais e tentamos capturar um pouco da magia das demos, com vista a “colocar carne nos ossos desses esqueletos” durante as gravações do álbum. O “n0n” foi o pico deste método, criámos excelentes demos e continuamos a adicionar ideias e sons enquanto gravávamos, acabando por conseguir um álbum incrivelmente denso e complexo, mas que na minha opinião, apesar de termos ganho uma nova magia, algum do charme original das demos perdeu-se. Desta vez quisemos dar enfoque à preservação e captação dessa magia inicial, optando por escrever praticamente ao mesmo tempo que gravávamos. Temas que seriam de “demo” no passado tornaram-se músicas do álbum, se sentíamos que tivéssemos atingido algo, passávamos à frente e trabalhávamos noutra coisa em vez de polir e adicionar constantemente. O resultado foi um álbum muito mais imediato, orgânico e humano. Penso que é uma representação bastante pura do nosso subconsciente e de aquilo que somos como pessoas e artistas. Existem também mais mudanças óbvias. Tem menos electrónica programada, tudo é tocado ao vivo e em vez de usar sons de teclado, captei samples de várias fontes para criar os meus próprios sons originais. A nível de guitarras, o Erik focou-se em criar ganchos memoráveis. No “n0n” odiamos a guitarra e tentámos matá-lo, mas após anos de tournées voltamos a gostar dele por ter começado a sacar estes riffs matadores. A performance vocal do Cain é a mais variada e confiante do álbum, é o melhor frontman que eu alguma vez vi e o alcance da voz dele, reflecte isso mesmo. É um autêntico animal! A voz dele acarreta uma angústia humana muito forte e tanto pode soar tortuoso num minuto, como assassino no próximo.

 

M.I. - Como está a vossa agenda neste momento? Podemos esperar um concerto em Portugal em breve?


Esperamos voltar à Europa muito em breve, há sempre tours a serem discutidas e é só uma questão de encontrar a certa no momento certo. Adoramos fazer digressões por aí. As pessoas são excelentes, os promotores tratam-nos muito bem e os países são bonitos e interessantes, temos esperanças de voltar aí ainda este ano, por isso, se algum promotor quiser reservar a banda mais volátil e feroz ao vivo do planeta, que entre em contacto connosco. Entretanto estamos em digressão aqui na Austrália. Temos algumas datas com os Cradle Of Filth, o que irá ser sem dúvida interessante pois não os vejo ao vivo há muitos anos e não sei como são os seus fãs actualmente, mas estamos confiantes de que somos capazes de os fazer berrar e meter-lhes os ouvidos a sangrar. Depois disso, temos um par de concertos e festivais independentes antes de voarmos para a Indonésia para tocar no Hammersonic. Estamos muito entusiasmados em actuar nesse grande festival, pois para além de ser a nossa primeira visita ao continente asiático enquanto banda, muitos amigos nossos vão tocar lá também por isso será excelente. De momento estamos em busca de oportunidades para tocar no estrangeiro, se tiverem conhecimento de algo, digam-nos!


M.I. - Os The Amenta passaram por muitas mudanças de line-up. Pensam que isto atrasou um pouco a evolução da banda?

Penso que as mudanças de line-up da banda foram irrelevantes para o nosso progresso. Acho que iríamos progredir de qualquer maneira, mas claro que os novos elementos trouxeram uma lufada de ar fresco para a banda e pontos de vista diferentes, mas eu tenho certeza que iríamos evoluir com ou sem eles. Eu e o Erik sempre escrevemos as músicas e controlamos as forças filosóficas e estéticas da banda. A progressão que tu ouves entre os nossos lançamentos é única e exclusivamente nossa. Gravámos os dois primeiros álbuns da banda praticamente sozinhos e somos muitas vezes prejudicados do ponto de vista das gravações pela falta de um line-up, mas a progressão continua de qualquer das maneiras, tenha ou não uma determinada nota sido gravada.


M.I. - Na minha opinião dão muita importância ao aspecto visual da banda. Acham que, cada vez mais, é um aspecto indispensável a juntar à música?

Por um lado isso é verdade, por outro não. É verdade que, enquanto fã, adoro o pacote completo, adoro algo com conceito e com contexto. Fico sempre decepcionado quando vejo uma banda cujas letras são violentas, feias e em cima do palco são apenas uma série de gajos normais a falar com o público entre as músicas. Com isto perde-se o contexto e faz-se duvidar da veracidade das letras. Nós sempre nos focamos em apresentar a nossa música e banda da forma mais honesta, nós fazemos música feia, com letras feias, por isso temos que nos apresentar feios. Estamos a tentar criar um feeling da mesma forma que um cineasta irá combinar música, imagens e falas para criar uma cena. Todos os factores se juntam para criar algo que visa incutir uma ideia e emoção no ouvinte, por isso damos muita importância a esse aspecto e penso que para compreender as ideias que estamos a tentar criar, é indispensável. Por outro lado, nós como artistas não temos o direito de ditar a forma como a nossa música deve ser recebida, se as pessoas gostarem, pode ser pelo motivo que elas quiserem, se gostam apenas de como soa a música e não se importam com as letras então isso é com elas. Poderão não estar a perceber mensagem que pretendemos passar, mas estão a disfrutar do som. Hoje em dia as bandas existem mais no rapidshare e mediafire do que fisicamente, o artwork e a apresentação são praticamente ignorados e mesmo que compres arquivos digitais legais pelo ITunes, a capa e as imagens são reduzidas a uma pequena miniatura. Portanto, para melhor ou pior, está-se a tornar numa parte irrelevante do processo. A menos que tenhas a oportunidade de nos ver ao vivo nunca terás a mínima ideia do contexto da nossa música no seu todo, em contrapartida, as pessoas vão continuar a gostar dela na mesma.



M.I. - O que nos podes dizer sobre o underground Australiano?


Houve uma altura em que me mantive atento, mas com o passar do tempo fiquei mais cínico e desiludido. Sei que existem grandes bandas, mas já não tenho paciência para “peneirar o ouro da terra”. Acho que se passa o mesmo em todas as cenas underground (de qualquer género) por todo o mundo. Existem algumas bandas que estão a quebrar barreiras e outras que não passam de simples macacos de imitação, cuja sua existência visa mais a inclusão num grupo do que o verdadeiro desejo de revolucionar e criar arte. Encontro bandas através da minha própria busca constante por algo novo e quando ouço uma que me deixe perplexo, poderá sugerir um novo caminho a explorar que poderá levar consequentemente a outro. Não procuro mais por uma cena em especifico e ouço tudo o que ela apresenta, existe simplesmente demasiada merda. Não quero rebaixar a cena australiana, isto é um fenómeno global e qualquer género que exista há algum tempo, fica atulhado destas bandas redundantes. A Austrália tem sorte no sentido de não se ter grandes chances de sucesso comercial, logo não existe nenhuma recompensa por se soar demasiado similar às outras bandas. Provavelmente teremos um melhor rácio de bandas boas por cada uma merdosa em comparação com o resto do mundo, mas ainda assim, existem demasiadas más, ou talvez eu esteja demasiado velho, cínico e deve-se estar calado. Que é que isso interessa?


M.I. - Finalmente, obrigado pela entrevista e tudo de bom para a banda. Últimas palavras para os fãs Portugueses?

Muito obrigado pela entrevista e pelo interesse na banda, foi um prazer responder ás tuas perguntas. Para os fãs portugueses que ainda não ouviram o “Flesh Is Heir”, vão comprá-lo agora! Garanto-vos que será o melhor álbum que vão ouvir em 2013, esta é uma afirmação sincera, não gastem o vosso dinheiro e tempo em porcaria genérica, comprem o que é verdadeiro e fiquem com os miolos rebentados.

Entrevista por Chris Correia
Tradução por Rúben Pinho