About Me

Dark Age - "A Matter of Trust" Review


Os germânicos Dark Age são uma banda de death metal melódico, ou pelo menos eram até "A Matter of Trust" ser editado. Honestamente fiquei muito surpreendido com o que ouvi e acreditem que ouvi muitas vezes este álbum para ter a certeza da opinião que estava a formar. 

"A Matter of Trust" é basicamente o que acontece quando uma banda decide que tem de vender e que para isso vale basicamente tudo, desde visual até ao som que os definia. Até o primeiro videoclip do álbum, da música "Afterlife", revela esta vontade de apelar a um novo público com menor tolerância a metaleiros cabeludos e de aspecto agressivo. Sempre que o vejo estou à espera de ver o Jared Leto aparecer. Basicamente vem-me à ideia uma conferência de imprensa dos Incubus em que o Brandon Boyd disse aos jornalistas que o facto de o álbum "Morning View" ser declaradamente mais comercial era pura e simplesmente porque precisavam de vender. Ponto final. 

Ouvir este "A Matter of Trust" é como que fazer uma viagem ao longo dos artistas que mais vendem no momento: abre logo com a bem poppy "Nero", com uma linha melódica do refrão igual à "Grenade" do Bruno Mars (não há-de ter sido propositado, mas para mim matou à partida...), seguindo-se a flagrante "Afterlife" que podia perfeitamente pertencer a um álbum dos 30 Seconds to Mars. À terceira música hão-de ter-se apercebido que também sabem cantar com guturais e então decidiram fazer uma homage ao trabalho que os In Flames têm vindo a produzir depois do "Clayman", até o refrão faz lembrar as vocalizações do amigo Anders... na concertável "Fight!" (porque a exclamação faz a diferença!) existe uma mistura curiosa entre 30STM e Avenged Sevenfold mas que fica aquém de ambos. A influência dos A7x mantém-se nas duas músicas que se seguem, "Don't Let the Devil Get Me" e "My Saviour", se bem que na última as teclas algo folclóricas levam a coisa um passo mais além do que os americanos fariam. Com "Glory", "The Great Escape" e "The Locked in Syndrome" volta a sonoridade dos 30STM e até uma chamadinha de atenção aos Linkin Park, porque ainda não havia influências declaradas suficientes. A gótica "Dark Sign" faz lembrar os velhinhos Sisters of Mercy e parece-me ser a mais apelativa do álbum, ou pelo menos soou-me à mais convicta (se for esta a linha que perseguem então insistam porque esta correu bem!). A última faixa é daquelas que ouvimos e rapidamente esquecemos, banal a muitos níveis, a letra "I'm getting closer to the end" diz muito do espírito de encher chouriços que esta música passa. De realçar também que a presença constante do autotune nas músicas de voz limpa (que são quase todas) é particularmente irritante e decepcionante num estilo que sempre prezei por ser alheio a esses facilitismos do pop.

O que me parece é que houve um esforço de se aproximarem de sonoridades que mais facilmente vendem, mas essa não é de todo a sua origem. Como tal, procuraram emular músicos que já vendem, sem no entanto se sentirem confortáveis nessas sonoridades. O que resulta é uma manta de retalhos algo absurda de músicas que pouco ou nada têm a ver umas com as outras e que ficam sempre aquém dos músicos que tentam replicar. Tanto são um quase pop-metal, como são screamo, como tentam ser outras tantas coisas e torna-se complicado perceber o que querem fazer com este álbum, pelo menos a nível musical.

Como nota final, é de realçar que estes músicos não são de todo maus. Aliás, basta ouvir os álbuns anteriores para se perceber a qualidade desta banda já com muita experiência. No entanto decidiram experimentar novos sons, e tudo no mesmo álbum. Na minha opinião soa a algo esquizofrénico e acaba por perder-se a qualidade musical dos interpretes na falta de personalidade das músicas. Talvez no próximo álbum já tenham encontrado uma identidade (se seguirem a sugestão da "Dark Sign" quero honorários!).

Nota: 6/10

Review por Manuel Pimenta