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Entrevista aos Skyllar

Skyllar começam agora a dar cartas e a pisar solo bastante fértil. A banda de death metal melódico, oriunda de Sintra, lançou no passado dia 4 de Setembro o seu primeiro EP, intitulado “Prologue”. A versão digital está disponível para download por apenas €3 em http://skyllar.bandcamp.com e inclui artwork em alta resolução. Os interessados poderão ainda adquirir o CD (digipack) através do facebook oficial da banda, mas atenção, esta edição é limitada a 50 unidades. Sempre simpáticos e boa onda, podemos contar com André Martins na bateria, Dave Marques na guitarra e voz, Eduardo Gonçalves na guitarra e Nuno Cabrita no baixo. Feitas que estão as apresentações, vamos então descobrir um pouco mais do trabalho dos Skyllar.


M.I. - Falem-me um pouco do percurso dos Skyllar. Sei que existem há 3 anos e que estiveram parados algum tempo. Como se conheceram? De onde surgiu a ideia de formar uma banda? Porque estiveram parados tanto tempo e o que vos deu ânimo para voltar agora ao projecto? Contem-me coisas.

Surgiu por mim e pelo Eduardo. Já nos conhecemos há bastantes anos, uns 12, ainda está a contar… E chegámos a uma etapa da nossa vida que pensámos “Epá este tipo de música é fixe, gostava de fazer uma coisa assim”, acho eu. Foi mais ou menos isso. Sempre tocámos guitarra juntos e entretanto surgiu o metal. 


M.I. - São autodidactas? Como aprenderam a tocar?

Dave – Eu e o Eduardo estivemos na mesma escola de música, foi aí que começámos a tocar juntos. Quanto a estas duas coisas (aponta para os restantes membros), não tenho a certeza. Ah! O André teve aulas de bateria.
André – Sim, tive aulas durante dois anos.
Nuno – Eu sou autodidacta.
Eduardo – O Nuno nem tocava baixo.
Nuno – Sim, eu tocava guitarra noutra banda também aqui de Sintra.


M.I. - Skyllar, porquê este nome? 

Eduardo – É mesmo para ser sincero? (risos) Para ser sincero, o nome surgiu no café quando estávamos todos a tentar encontrar um nome para a banda, a fazer mil e uma experiências e junções de palavras e letras. Estávamos a jogar ao jogo do “Stop” e a palavra que surgiu foi “KYLOR”, soou-nos bem e a partir daí decidimos acrescentar letras e retirar outras.
André – Depois fizemos uma pesquisa e descobrimos que “skyllar” significa “mamilos”, em latim. 


M.I. - Sabem que em islandês Skyllar significa “dever”?

Eduardo – Claro, foi por isso que nós escolhemos o nome “Skyllar”.
André – Esquece os mamilos então.
Nuno – Sim, fomos ao dicionário de português – islandês.
Eduardo – Sim, foi basicamente porque sentimos que temos o dever de mostrar a nossa música ao público.
Dave – Acho que em holandês também significa “fugitivo” ou qualquer coisa do género.
Eduardo – Mas isso não interessa, “dever” fica melhor.


M.I. - Lançaram agora um EP, têm algum material anterior a este projecto ou esta é mesmo a vossa estreia oficial?

Dave – Temos músicas antigas que já não tocamos, também com outro vocalista que já não pertence à banda. Daí também termos demorado tanto a chegar a este processo, porque houve muitas alterações, troca um e depois vem outro… esta não é a formação original e, respondendo à tua antiga pergunta de porque é que demorámos tanto a chegar aqui, foi também por isto. Assim que o vocalista saiu, demorámos bastante tempo a reestruturar as músicas todas, a ver como é que ficavam melhor e a meter os berros que não é uma cena fácil.
Eduardo – Sim, mesmo o estilo acabou por mudar um pouco. Inicialmente era só eu e o Dave, quando tivemos a ideia de formar a banda. Depois metemos um anúncio à procura de baterista, surgiu um e veio também um vocalista. Começámos a ensaiar, mas entretanto, por acharmos que não estava a render e que não estava a ir de encontro ao que se pretendia, mudámos outra vez a formação da banda, entrou o André para a bateria e o Dave ficou na voz.


M.I. - Por aquilo que pude apurar, fiquei com a ideia de que este EP foi um projecto que vos saiu verdadeiramente da pele. Tanto a nível de trabalho como a nível económico. Correcto?

Skyllar em uníssono – Sim.


M.I. - Os custos foram todos suportados por vocês? Tiveram alguma ajuda?

Dave – Bem, saiu tudo do nosso bolso, literalmente. Só tivemos algumas ajudas do tipo o produtor saber que não somos abastados e então fez-nos uma espécie de desconto. Conhece o nosso trabalho, as nossas condições e ajudou-nos com isso. E a gráfica também nos ajudou.


M.I. - Quem são os responsáveis pela produção, ilustração e design?

Nuno – Tanto eu como o André somos designers e tivemos sempre a vontade de sermos nós a tratar da produção do nosso primeiro EP, ou seja, é um trabalho totalmente feito por nós, tanto a nível musical, como conceptual e gráfico, seguindo sempre a metodologia do “do it yourself”. Tivemos uma pequena ajuda na ilustração, a ilustração que está presente na capa é do Armindo Soares, que é um amigo nosso também. Mas tanto a nível da concepção do tema gráfico, como também do próprio objecto a produzir, foi tudo elaborado por nós.


M.I. - Prologue é o nome do EP e, também, da 1ª faixa. Escolheram este título por este trabalho marcar o início do vosso percurso musical, por ser o prólogo do que está para vir?

Nuno – Sim, eu acho que a escolha deste título também vem um pouco do conceito desta ser a primeira coisa, feita por nós, que estamos a mostrar ao mundo e é o início da nossa procura de identidade, por assim dizer. Acho que é o prólogo daquilo que está para vir ainda, que é uma procura sempre constante. 


M.I. - Vocês têm um vídeoclip editado, algum motivo especial para terem escolhido a “Remnant” para este efeito? Quem são os responsáveis pela produção do vídeo?

Nuno – A escolha da música não foi algo propriamente muito pensado. Não pensámos que se destacasse das outras. Acho que até fui eu que sugeri essa, mas porque nesse dia estava a sentir-me especialmente atraído pela música, estava a gostar de ouvi-la.
Eduardo – Uhhhh…
Nuno – Foi uma coisa muito…(risos) Em relação à produção do vídeo, ele foi feito, também, por uma amiga nossa. Tudo o que nós não conseguimos fazer, recorremos sempre a pessoas amigas e conhecemos bastantes pessoas neste mundo, pelo menos na área de design e das artes e visual e foi uma amiga minha, chamada Ana Sofia Sousa, que gentilmente fez a filmagem do ensaio e a edição também foi toda da parte dela.


M.I. - Para quem ainda não ouviu, o que é que se pode esperar? Vocês estão satisfeitos com o resultado?

André – Sim, eu falo por mim, mas acho que todos partilham da mesma opinião. Estamos satisfeitos com o percurso que fizemos e com a base que temos agora… o que é que acham?

Dave - O que o ouvinte pode esperar da nossa música é… nada de especial porque está tudo uma grande merda… (risos) Não, estou a brincar. Mas… talvez o nosso percurso como banda amadora até nos identificarmos com o nosso próprio estilo, acho que é nisso que o conceito se baseia, “Prologue”, o nosso começo.


M.I. - Esse é o conceito que está por detrás? De que falam as músicas?

Dave – O tema das músicas é um bocado aleatório, não se liga muito ao conceito do EP - liga-se no fim só – porque foram escritas em tempos distintos, sem pensar que ía estar tudo num EP e que, por isso, teria de obedecer a determinadas regras. Não conta nenhuma história do início ao fim, nem nada que se pareça. Portanto, o conceito que nós quisemos dar ao EP foi: Isto é o nosso começo, estas são as músicas que fizemos até agora! E queremos continuar. 


M.I. - Quem escreve as letras? Todos participam ou alguém tem mais jeito para esta tarefa?

Dave – Sim, acho que no fundo todos participamos um pouco, nem que seja com correcções gramaticais ou porcarias do género. Eu, pessoalmente, disponibilizo mais tempo para isso, porque é o meu trabalho, sou o vocalista, mas conto com a ajuda de todos os elementos do grupo.


M.I. - E a nível de composição? Como é que nasce?

Nuno – Normalmente surgem ideias de guitarra, parte tudo da guitarra. Acho que todas as músicas que temos até agora partiram da composição da guitarra. São ideias que podem ser soltas e depois vamos trabalhando em ensaio, eu vou introduzindo o baixo, o André vai introduzindo a bateria e vamos mexendo ali a ver o que resulta e não resulta. A voz é sempre a última coisa a surgir.
Eduardo – Aproveitamos também o facto de termos três guitarristas na banda, apesar dele (Nuno) tocar baixo, é guitarrista. As bases saem da guitarra porque acaba por ser o que é mais natural para a maioria dos elementos.


M.I. - Então as letras só surgem depois da composição musical?

Nuno – Sim. Pode até já haver letras escritas previamente que nós tentamos encaixar nas músicas. Não é uma coisa que nós façamos muito conscientemente, escrever as letras a partir do instrumental. Normalmente são ideias que nós vamos tendo, o conceito da letra acaba por não ser tão importante do ponto de vista da composição para o resultado final.


M.I. - As vossas letras são todas em inglês, já pensaram escrever em português ou vão manter-se neste registo?

Nuno – Eu gostava de experimentar, mas não sei a opinião do resto do pessoal.
Dave – Já pensámos nisso, mas é o cargo dos trabalhos. As letras em português ou estão muito bem escritas ou então é para o lixo. Portanto, ficamo-nos pelo inglês enquanto não conseguimos fazer nada que sobressaia assim, em português.
Eduardo – Mas não pomos de parte essa opção!


M.I. - Então consideram que fazer música em português, na nossa língua materna, é mais difícil do que em inglês. Será pela responsabilidade que acarreta?

Dave – Sim, sim.
Eduardo – E mesmo derivado às nossas influências, há muito boas bandas de metal em Portugal, mas as nossas influências são muito mais internacionais do que portuguesas e mesmo as bandas de metal em Portugal, a maioria canta em inglês. Portanto, daí surge naturalmente a nossa direcção para o inglês.


M.I. - Quais são as vossas maiores influências?

Eduardo – Isso é uma questão pertinente. É interessante porque vem daí o nosso estilo e tudo o que fizemos e, talvez a nossa identidade venha crescendo porque as nossas influências são muito, muito diferentes. Somos todos do metal, mas se calhar o Nuno agora não tem ouvido tanto esse género, ouve cada vez menos e nós não ouvimos apenas metal nas nossas playlists diárias. Há grandes diferenças entre nós. A minha principal influência, e sei que do Dave também, tem sido Sylosis, essencialmente. Quando começámos havia muita influência metalcore, que era o que eu gostava, por exemplo, Trivium.
Nuno – Eu sou um grande adepto do post-metal, a minha banda preferida de sempre é Isis. Também gosto muito de Cult Of Luna e de algo mais virado para o harcore, como Converge. Hoje em dia ando a ouvir muito mais música electrónica, por isso a minha forma de escrever música vem, também, um pouco daí. Tiro cada vez mais influência de outros estilos de música.
André – Eu nunca tive muito essa veia do metalcore, gosto de música mais progressiva, sei lá… Tool. O instrumental deriva muito dos gostos de cada um.
Dave – E Death!!!
Skyllar ao mesmo tempo – Sim, Death!
André – E Sepultura!


M.I. Neste momento, é seguro dizer que é esse género que vão seguir ou há outros caminhos que querem explorar?

André – Sim, acho que há sempre uma evolução.
Dave – Enquanto banda estamos confortáveis neste género, talvez futuramente possa mudar um pouco, mas de momento é isto que gostamos de fazer.
Eduardo – Também como estamos muito no início, não podemos querer experimentar tudo. Temos de encontrar a nossa identidade, mas agora estamos confortáveis neste registo.


M.I. - Vão actuar no Stairway Club, em Cascais, a 21 de Setembro, juntamente com Legacy of Cynthia e Laydown. Como surgiu a oportunidade?

Dave – É a nossa estreia! Nós damo-nos muito bem com o dono da Fingerprint Music Studios que é também baixista dos Legacy of Cynthia e que, por sua vez, é amigo do senhor da MadRules que patrocina o evento. Eles tinham outra banda que são os Sinmattic, aqui da zona de Sintra, que tiveram de cancelar e, portanto, chamaram-nos a nós. Basicamente foi isso.


M.I. - Quais têm sido as reacções de quem ouve a vossa música? Já tiveram críticas negativas?

Dave – O público feminino fico todo “ai que barulheira” e “Dave, não te imaginava nada a gritar”, mas pronto isso são elas. No geral, temos tido críticas muito positivas, tanto de pessoal do metal, como fora do metal que dizem “isto não é a minha cena, mas está bem feito, está engraçado”.


M.I. - Têm concertos agendados?

Dave – Para já, para já, não está nada agendado, simplesmente estão algumas coisas faladas.
Eduardo – Temos tido contacto com outras bandas de metal e então temos as coisas faladas para futuramente arranjarmos mais concertos.


M.I. - Qual é a vossa opinião acerca do metal em Portugal?

Nuno – Tanto no metal como em outros estilos de música, acho que, em Portugal, se está, cada vez mais, a valorizar o que se faz cá dentro e não dependemos tanto de bandas estrangeiras para nos deslocarmos a concertos. Cada vez há mais iniciativas por parte de bandas e promotores para fazer as coisas acontecer. E acho que o metal também, não ouvindo eu tanto metal português quanto gostaria, mas sinto que há cada vez mais diversidade de sons a serem feitos em Portugal e não nos restringimos a emular os sons que ouvimos lá de fora e acho que isso é muito significativo da maturação da mentalidade da música em Portugal. Recentemente, tenho ouvido muito Riding Pânico, eles lançaram um álbum há pouco tempo, no Verão, e é o que eu tenho andado a ouvir mais, feito em Portugal. São post-rock, não são metal, apesar de ter influências, mas é uma banda que tenho ouvido muito. 
André – Eu gosto bastante de Men Eater, são uma grande influência.
Eduardo – Acho que o mercado do metal em Portugal tem vindo a crescer, é a ideia que eu tenho e, por isso, espero que haja público para a nossa música. O que também é bom dentro do metal é o apoio que todas as bandas e outras entidades dão a novas bandas em Portugal, isso é muito bom e tem sido uma mais-valia para nós.


M.I. - Projectos a curto, médio e longo prazo?

Dave – Dar concertos, o máximo possível e, num futuro próximo começar a fazer o segundo EP que irá complementar o “Prologue”. Vai basear-se no mesmo conceito, queremos juntar os dois e ter, assim, a nossa primeira fase como banda à procura de uma identidade própria. 
Eduardo – O primeiro e o segundo foram feitos mais ou menos ao mesmo tempo, nós já temos o segundo pensado, as músicas estão praticamente todas e, portanto, há-de ser uma etapa a acabar com o lançamento do segundo EP. Agora só falta termos disponibilidade, dinheiro e meios para gravar outra vez, mandar para a gráfica, para repetir todo o percurso. A curto e médio prazo queremos dar concertos, divulgar ao máximo a nossa música e lançar a segunda etapa do início dos Skyllar: o segundo EP.


M.I. - Está para breve um álbum de Skyllar?

Eduardo – Esperemos que sim. Penso que em menos de dois anos teremos esse objectivo cumprido, como as coisas estão a correr agora podemos afirmar que sim, mas não podemos dar um prazo concreto. Nós somos estudantes, o Nuno esteve em ERASMUS seis meses, foram seis meses em que ficámos parados, essas coisas também nos fazem atrasar um bocado, mas acho que sim, dois anos serão suficientes para o álbum.


M.I. - E editoras? Querem fazer algum apelo?

Nuno – Oiçam a nossa música, nós vamos estar por aí a divulgá-la. Apareçam dia 21 de Setembro em Cascais. Não, mas até agora não pensámos ainda em sair do método “diy” (do it yourself) porque é uma forma que nos é mais próxima e mais confortável. Com editoras, começaria a implicar compromissos da nossa parte e ainda não sabemos, ainda não temos a experiência no meio para sabermos se nos podemos expor a isso, mas é algo que não dizemos que não. Não estamos desesperadamente à procura de alguém que pegue em nós, mas não dizemos que não, claramente.

Skyllar – 21 de Setembro, Stairway Club, às 22h, apareçam e tragam amigos!


Entrevista por Vera Calvário
Fotografia por Miguel Lopes