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Eye Of Solitude - "Canto III" Review


Ao fim de 3 discos de originais, estes ingleses, sim, aqui não há surpresa, esta avalanche sentimental só poderia ter sido criada sobre um clima nublado, chuvoso e frio, arrasam totalmente com o coração do ouvinte, tal é o impacto da sua música. A passo de caracol começa a marcha deste “Canto III”, o novo álbum dos Eye Of Solitude, libertando um fardo imenso de emoções melancólicas, trágicas e de feridas abertas, tudo a uma só voz, cavernosa por sinal. E se os caracóis chorassem provavelmente iriam fazê-lo ao som deste disco e da música “Act IV: The Pathway Had Been Lost”!

Aqui, estamos no espectro do Doom, com vocalizações Death e algumas Black (muito à semelhança dos nossos Desire, aliás existem, com toda a certeza, semelhanças estéticas entre as duas bandas), também encontramos temas com uma duração, maioritariamente, acima dos 10 minutos, todos eles apresentando arranjos cujo embelezamento contribui para o aumento da intensidade sonora deste registo. Longe de ser um álbum monótono, este “Canto III” tem vários andamentos, tal e qual como o número de temas, que alternam em velocidade, em peso, em melodia, resultando tudo num ambiente propício para esta transição das estações do ano. Ora, por um lado, temos o pálido seco dourado do Outono, a lembrar os últimos momentos de luz do ano, como, por outro, o escuro trémulo do gélido Inverno, numa alusão às profundezas da natureza Humana. Com uma produção intocável, as músicas fluem sem obstáculos, acompanhadas por cânticos entoados com desespero.

Cada vez mais acredito que conceber música exige um alto nível de auto-conhecimento, principalmente no aspecto emocional, onde tudo explode à mínima vibração inconsciente. Atingir estados de profunda reflexão, mantendo uma estrutura de lucidez, quase sem vacilar perante toda a sua envolvente, perfeitamente direccionado, como se a melodia se equivalesse ao momento de um parto, e, no final, a tratássemos como se de um filho nosso tratasse. Neste “Canto III”, o conceito de música pessoal é transcendido para uma dimensão além do físico, acabamos por ficar suspensos, a flutuar numa atmosfera crua, despida de impurezas, translúcidos como uma lágrima!

Nota: 9/10

Review por Pedro Pedra