A Subcultura do metal é por norma predominantemente masculina. Embora o número de mulheres que gostam de metal tenha vindo a aumentar progressivamente, basta ir a qualquer concerto para verificar que a plateia ainda é dominada por fãs do sexo masculino. É verdade que nos últimos 15 anos, tem havido uma espécie de boom no que diz respeito à existência de bandas de metal com integrantes femininos, mas ainda assim, estas continuam muitas vezes a ser objectivadas e sexualizadas. E se ser mulher num mundo de homens pode por vezes ser difícil, ser mulher e de uma raça diferente densifica ainda mais a questão. "What Are You Doing Here?: A Black Woman's Life And Liberation In Heavy Metal", é um livro que discute um tema pouco abordado no âmbito dos estudos culturais, bem como na subcultura do metal. Escrito por Laina Dawes, problematiza a temática de exclusão social das mulheres negras que se interessam por heavy metal, através da partilha de testemunhos e histórias de vida.
Recentemente, o tópico do livro foi mote para uma reportagem apresentada pelo programa de televisão canadiano “16x9”, do canal Global Television, o segundo mais visto no Canadá. A reportagem, intitulada “Black Metal”, focou-se primordialmente na autora do livro e em Militia Vox, vocalista de Judas Priestess, uma banda feminina nova-iorquina de tributo a Judas Priest. A peça jornalística aborda várias temáticas, desde a discriminação, à falta de paralelismos e influências para as mulheres negras adeptas de metal, passando pelo poder curativo e importância que a música tem como forma de combater os problemas do dia-a-dia.
Na reportagem, ambas partilham situações nas quais se sentiram directamente discriminadas, em virtude de não serem caucasianas. Laina conta: “Cobri o concerto dos Metallica no Air Canada Centre em 2009, e foi de loucos, completamente. Tive homens a fazerem ruídos de gorila para mim quando passava por eles”.
Militia reflecte na sua carreia musical, e conta que ao longo desta as companhias discográficas lhe diziam recorrentemente que era “demasiado negra para o metal”, ou que se queria fazer rock and roll, necessitaria de branquear, literalmente, a sua imagem.
Apesar dos aspectos negativos, ambas destacam que o metal teve um papel decisivo nas suas vidas. Militia diz que não há outro estilo de música que a entusiasme tanto, e Laina chega mesmo a afirmar que: “Se não fosse o metal, provavelmente teria cometido suicídio, porque o metal servia como escape, como forma de extravasar a raiva”.
O mini-documentário pode ser visualizado em cima. O livro de Laina Dawes, que incluí um prefácio escrito por Skin, vocalista dos Skunk Anansie, ainda não possuí tradução em português, mas pode ser adquirido online em diversas plataformas.
Por: Vanessa Henriques Ribeiro - 28 Janeiro 14