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Dread Sovereign - "All Hell's Martyrs" Review


Ora vamos lá abrandar o ritmo frenético a que esta vida nos habituou a manter adormecidos à dor. Anda-se tão depressa que nem se repara que se está com os olhos fechados e cheio de feridas e cicatrizes, como que tatuagens a cobrir o corpo todo. Vamos lá abrandar e a abrir os olhos e os sentidos à... DOR! Este álbum de estreia dos irlandeses Dread Sovereign é um murro na cara capaz de acordar até um morto. Doom metal cru e desagradável na sua honestidade é apenas uma das suas qualidades. A mais visível será sem dúvida deste ser mais um projecto de Alan Averill "Nemtheanga", mais conhecido pelos Primordial.

A presença de Nemtheanga garante logo duas coisas: letras de qualidade e uma interpretação das mesmas apaixonante. Provavelmente será um exagero mas de certeza que o homem até a recitar a lista telefónica deve soar interessante e épico. Poderá surpreender aqueles que não o conhecem a fundo, mas ele aqui também fica entregue ao baixo, que tem um som bem grave, bem poderoso, assegurando o ritmo de forma perfeita  deixando a guitarra livre para tornar a música ainda mais rica. Não se poderá dizer que "All Hell's Martyrs" é funeral doom, mas anda lá perto. Muito perto. Tanto em ambiente como em letargia de "movimentos" (chamemos-lhe assim), sendo que a diferença é que enquanto no referido estilo, a coisa arrasta-se para um beco sem saída, aqui a rapaziada enriquece com um salutar espírito semi-psicadélico - "Cthulu Opiate Haze" é um bom exemplo. Há uma continuidade muito boa de faixa para faixa, tornando impossível (se)parar a audição em qualquer dos dez temas aqui presentes, onde até as pequenas peças instrumentais/ambientais ("Drink The Wine", "The Devil's Venom" e "The Great Beast") se assumem como fundamentais no todo.

São sessenta e sete minutos intensos que surpreenderão todos os amantes de doom potente, mostrando que é possível juntar doom levado ao extremo com um bom sentimento de progressão que ocorre ao logo de todo o álbum. Doom é provavelmente um dos estilos mais complicados de praticar sem se tornar analgésico cavalar. O risco, a linha é tão ténue, que até mesmo os mais experientes poderão dar passos em falso. Sendo o primeiro álbum do projecto, não temos como saber isso, mas o que sabemos, agora, é que este é um passo dado com tanta convicção que até é capaz de afundar o pé em alcatrão ao cimento, como se fosse uma bate-estacaas. Mais ou menos similar à forma como ele bante na cabeça do ouvinte a cada audição. Grande surpresa e futuro clássico do género.


Nota: 9.1/10

Review por Fernando Ferreira