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Floor - "Oblation" Review



Há um fenómeno interessante na música pesada. O chamado "gosto-tanto-de-ti-mas-só-se-não-existires". O caso mais flagrante é sem dúvida dos Kyuss. O seu último álbum foi praticamente ignorado, a banda findou sem que se desse por ela ou se desse importância a esse facto e anos mais tarde - principalmente quando os Queens Of The Stone Age começam a ter sucesso - dá-se uma sangria desgraçada porque os Kyuss acabaram. Bem. Os Floor quase que estão na mesma situação. Quase. O género é em parte o mesmo mas a aproximação a ser feita será sem dúvida aos Melvins (outros que se acabassem teriam uma legião de fãs ninja saudosos), mais do que propriamente aos Kyuss.

Ora os Floor tiveram um percurso não tão linear. Para já, existindo desde 1992, o primeiro longa-duração veio para o público apenas no novo milénio, embora na verdade esse primeiro álbum não tenha sido realmente o primeiro, já que "Dove", lançado dois anos depois, já tinha sido gravado dez anos antes e nunca foi lançado vá-se lá saber porquê. Depois de lançar o primeiro/segundo álbum acaba por se extinguir por ninguém lhes ligar pêva. A banda dividiu-se em dois outros projectos (Dove e Torche) que fizeram com que as atenções se voltassem para o projecto original, o que acabou por provocar um despertar de interesse forte o suficiente para provocar uma reunião, que depois dos concertos, resulta num novo álbum de originais, o terceiro.

Findada a apresentação, vamos ao que interessa, a música. Ora a música aqui poderá levar a todos os que gostaram do primeiro segundo álbum de Floor, não fiquem muito entusiasmados. Não que seja radicalmente diferente. Não o é, embora tenha músicas maiores e seja bastante mais próximo da fórmula dos Torche do que propriamente aquela explorada no álbum auto-intitulado. A abordagem das duas guitarras e da sua estranha afinação que faz com que não se tenha saudades do baixo é um dos pontos de referência, mas a banda não vive à custa deste truque. O facto do álbum ser bastante diferente desse primeiro trabalho marcante é uma prova de que a banda não está interessada de viver também à custa do passado, mantendo algumas das imagens de marca mas avançando para paragens mais desafiantes - como o épico "Sign Of Aeth".

Porque é que isto não resulta totalmente bem? Porque acabam por ser catorze temas que são diferentes entre si o suficiente para se notar isso mas não o suficiente para tornar este álbum bem unidimensional. No final parece que fica a sensação de que se ouviu um tema de quarenta e quatro minutos dividido em catorze partes. Claro que aqueles que gostam de deitar abaixo o vão fazer por ser igual ao primeiro (e se fosse, deitariam abaixo por causa disso mesmo), mas tem que se dar a mão à palmatória por não irem pelo caminho mais fácil e por fazerem música nova e interessante, pelo menos para os próprios. É um álbum que quando termina, fica-se com sensação de vazio, mas que ao contrário do que é normal, não apetece colocar mais uma vez a tocar. Apenas continuar a ouvir o silêncio.


Nota: 6.7/10

Review por Fernando Ferreira