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My Refuge - "Living in Anger" Review


O power metal é um daqueles subgéneros que, não raras vezes, nos deixa com um “sabor” agridoce no ouvido. Mesmo quando as primeiras impressões frustram os nossos gostos, há sempre um second round que nos faz repensar aquilo que ouvimos e muitas vezes até ficamos a gostar um bocadinho daquilo que ao início era desinteressante. É exactamente isto que acontece neste EP dos My Refuge. 

Com apenas quatro canções para degustar, não existem aqui espaços para encher chouriços. Todas as canções têm os seus momentos altos, sempre com a energia (um pouco melosa) que caracteriza o power metal. A voz de Moz é o primeiro objecto estranho neste “Living in Anger”, mas rapidamente se torna muito familiar e apreciável. Um pouco ao estilo de Tony Kakko e Timo Kotipelto, o italiano ataca as canções com veemência, resgatando algumas canções que cedo caem no aborrecimento. A faixa título é talvez a maior prova da qualidade e alcance vocal de Moz e é também a faixa mais “aguerrida” do álbum. 

As duas primeiras canções do EP – “A Storm is Coming” e “The Cage (Oh Demon in my Eyes)” – têm também um alto teor de carga musical bizarra. Voltamos aqui à primeira ideia desta review, já que estas são canções que não soam propriamente bem nas primeiras audições, mas depois de ganharem o seu espaço são um bom par de surpresas. A estranheza inicial prende-se com a toada quase angelical das músicas. Às tantas temos a sensação que estamos a ouvir um salmo dominical embrulhado em tons metálicos, mas é um salmo… estranhamente engraçado. O refrão de “The Cage (Oh Demon in my Eyes)” é figurativo desta missa metálica. 

A última canção é uma balada típica e que não acrescenta muito ao já vasto universo de power ballads. Ainda assim, “Empty Rooms” tem a sua graça, quanto mais não seja pela mutação colectiva dos My Refuge: a voz de Moz transforma-se num sussurro de embalar e as guitarras de Paietta e Dettore perdem a velocidade e fúria em detrimento da melodia caustica que a canção emana. Um final decente para um EP satisfatório. Embora este não seja um ponto de partida muito entusiasmante, fica a ideia que o quinteto italiano tem margem de progressão e pode, quem sabe, surpreender num futuro próximo. 

Nota: 6.6/10

Review por Pedro Bento