Cada vez mais me convenço que hoje em dia para se conseguir ouvir algo de jeito num subgénero como o Female Fronted Metal, não é preciso ter uma vocalista tecnicamente irrepreensível, mas sim alguém minimamente convincente por detrás do microfone. Alguém que empreste garra e intensidade às composições, que não seja escrava das mesmas, afinal de contas ainda é de metal que falamos. Se com o passar dos anos as cada vez mais pomposas produções têm vindo a delapidar (de mais) alguma da rudeza dos discos, quando comparados com os clássicos que estabeleceram o que é hoje o metal, cabe aos artistas puxarem da guelra por outros meios.
E é talvez por essa ordem de razões que a menina Lisa Stefanoni e os seus Evenoire, mesmo não sendo propriamente grandes inovadores conseguem um resultado acima da média. É verdade que ouvimos muito daquilo que afasta as pessoas deste subgénero, como abundância de teclados e sintetizadores, ou até mesmo flauta (tocada pela vocalista), mas quando é preciso as guitarras aparecerem elas fazem-no, geralmente com conteúdo mais interessante do que 3 ou 4 oitavas ao mesmo ritmo e já está.
Claro está que isto é tudo muito bonito, mas também sem boas mentes por detrás do processo criativo não há entrega que resista, e este segundo disco "Herons" comporta excelentes momentos. As próprias estruturas das composições conseguem estar ali mesmo no limite entre o óbvio e o mais arrojado, torrando-as fáceis de digerir mas ao mesmo tempo alargando-lhes o prazo de validade, sem que este expire ao fim de umas quantas audições.
E acreditem, para os fãs do género há aqui temas que irão querer ouvir bem mais do que uma vez, a começar pelo deliciosamente viciante "The Newborn Spring", com um riff marcante e uma Lisa, entre vários registos a empregar toda a sua alma e pulmões à composição. "Drops of Amber" cativa pelo seu riff melódico inicial e complexidade, enquanto "Tears of Medusa" apresenta um interessante dueto com Linnéa Vikström (Therion e Kamelot ao vivo).
Mas "Herons" ainda não é um clássico, especialmente pela oscilação de qualidade entre alguns dos seus temas, embora como disco flua muito bem. É sim um testemunho de que estes italianos parecem estar num bom caminho.
Review por António Salazar Antunes