Os Primordial são, indubitavelmente, a maior banda irlandesa de metal e estão de regresso com o álbum “Where Greater Men Have Fallen” lançado há dias pela Metal Blade. A Metal Imperium conversou via skype com Alan “Nemtheanga” Averill sobre o novo álbum, o novo vídeo e os planos para o futuro.
M.I. – Os fãs aguardaram com bastante impaciência o lançamento do novo álbum dos Primordial que já conseguiu vários prémios e aclamação da imprensa. É um grande feito!
Já tinha acontecido o mesmo com “The Nameless Dead” mas nós não tomamos estas coisas como garantidas. Receber a aprovação da imprensa é importante mas o que realmente importa é o que os fãs da banda pensam do álbum.
M.I. – Costumas ler os comentários nas redes sociais?
Não ligo a essas cenas. Não leio críticas, não leio rumores, não leio fóruns feitos por putos de 17 anos que ainda vivem em casa dos pais e não fazem a mínima ideia do que estão a falar. Fico contente por os Primordial receberem atenção mas eu tenho mais que fazer com a minha vida do que ler o que se publica na internet.
M.I. – Os Primordial habituaram os fãs a temas com letras poderosas e profundas… quanto tempo demora a escrever um álbum?
Depende, não há regras. Pode acontecer de conseguir escrever uma letra em 10 minutos ou olhar para um caderno de letras com 10 ou 15 anos e reparar num determinado verso que nunca usei e agarrar nele… por vezes, pega-se na caneta e a letra sai naturalmente. Não há nenhuma fórmula mágica para estas coisas.
M.I. – O mundo em que vivemos inspira-te na escrita de letras?
O que mais me podia inspirar senão o mundo em que vivemos?! Claro que sim! Também depende do tipo de relação que tens com o ambiente e o tipo de pessoa que és. Os Primordial não são fantasia, falamos sobre o mundo real, falamos muito do aqui e agora. Eu sou uma daquelas pessoas que está constantemente ligada ao “painel de controlo”, não tenho o botão “desligar”.
M.I. – O que é que os fãs podem esperar do novo álbum “Where Greater Men Have Fallen”?
Se já eram fãs, vão continuar a ser fãs. Se detestavam a banda, vão continuar a detestar! Penso que é um álbum poderoso mas sei que todas as bandas dizem isso do seu mais recente trabalho!
M.I. – O lyric vídeo para o tema título “Where Greater Men have fallen” é bastante intenso. Podes falar sobre ele?
É sobre a esperança do século 20. No final do século 19, as pessoas tinham a esperança que o século 20 fosse o século da mudança, da revolução industrial e de novos feitos para a humanidade. É sobre esse período, o final do século 19 até à primeira guerra mundial. O período da esperança originou mais mortes e derrame de sangue do que outro período qualquer. O tema fala sobre as promessas quebradas.
M.I. – É sobre homens a lutar por um futuro melhor?
Não necessariamente! Significa que tudo o que tentas fazer, já foi tentado por alguém antes de ti. Basicamente significa que a guerra está perdida, que a guerra acabou e, metaforicamente, só podes confiar em ti próprio e no teu passado pessoal. É um tema obscuro.
M.I. – Quando estavas a escrever este álbum sobre “Grandes Homens” tinhas alguém específico em mente?
Não, nem por isso.
M.I. – Já filmaste o vídeo para o tema “Babel’s Tower”. Como correu a experiência?
Interessante, fria, aborrecida mas, ao mesmo tempo, foi fascinante. Eu não sou uma pessoa paciente que gosta de repetir as coisas vezes sem conta. Não faz o meu estilo mas o nosso baixista, que é a personagem principal do vídeo, adorou a experiência. É como uma nova disciplina para a banda. Foi muito interessante ver como estas coisas funcionam e vais poder vê-lo daqui a dois dias. Já estava na altura de fazermos um vídeo!
M.I. – Pela experiência, posso concluir que não estás muito interessado em fazer algo similar num futuro próximo?
Não sei! Os vídeos são estranhos porque são bons para promoção mas não há retorno físico e é complicado para as editoras perceberem se ele resultou bem ou não. Hoje em dia já nem há canais televisivos que os passem, é tudo feito mais para a internet. O nosso vídeo é como um pequeno filme mas é interessante. Não sei é se gostaria de ganhar a vida a fazer vídeos.
M.I. – Neste fim de semana que se aproxima, a banda vai fazer os espectáculos de lançamento do novo álbum na Alemanha. O que é que os fãs podem esperar?
Os novos temas! (risos) Um espectáculo de Primordial é um espectáculo de Primordial! Estamos a tentar inovar no palco e a usar novas luzes mas, basicamente, estes concertos servirão para apresentarmos grande parte dos novos temas.
M.I. – Neste fim de semana tocareis em Berlim onde se está a comemorar os 25 anos da Queda do Muro. A queda do muro é, de alguma forma, especial para ti?
Claro que sim! Estás a olhar para uma grande mudança de um sistema opressivo no século 20. Lembro-me de assistir à queda do muro na televisão. Quando o muro caiu, houve quem dissesse que era o fim da história.
M.I. – O muro caiu no ano em que os Primordial se formaram, não foi?
Nem por isso. O Kieran e os outros já se juntavam para tocar música pesada mas tinham 12 ou 15 anos, por isso não conta! Eu só me juntei à banda em 91. Como sou uma pessoa interessada em História, a queda do muro de Berlim marcou uma era e foi um dos períodos mais importantes da História. Estamos a olhar para uma mudança política, o final da Guerra Fria… foram tempos muito curiosos mas não foi o fim da História!
M.I. – Há alguma tour planeada?
Não, vamos somente tocar ao fim de semana em territórios diferentes. Não há planos para uma grande tournée porque o modelo de tocar de Segunda a Sexta não funciona para nós. Não funciona financeiramente e, por isso, pretendemos tocar em lugares diferentes de Quinta a Domingo. Mas veremos como corre.
M.I. – Já há concertos confirmados mas nenhuma data em Portugal… já estava na hora de voltaram cá, não achas?
Já faz algum tempo que tocamos aí e gostavamos de voltar aí e a Espanha. Mas agora é complicado porque a cena no sul da França está praticamente morta e não se fazem lá concertos, pelo que é um grande desvio e torna-se difícil descer até Espanha e Portugal… não é viável.
M.I. – A primeira vez que vi Primordial foi no London Astoria em Dezembro de 1995 e estavas a tocar "Fuil Ársa". Apaixonei-me pelo tema e ainda hoje é um dos meus preferidos. Qual é o teu?
Nem faço a mínima ideia! Há alguns que prefiro tocar ao vivo. O verdadeiro teste de um tema é ao vivo e nós agora vamos ver como corre com os temas novos.
M.I. – Sabendo que gostas de escrever, já pensaste se serias escritor, caso não fosses músico?
Talvez, mas não sei se me daria a adrenalina que tocar dá. Gosto de escrever pontualmente mas não gostaria de ser jornalista porque não é um trabalho fácil. Mas já pensei em escrever um livro sobre a minha experiência no mundo da música. Talvez o faça!
M.I. – No início dos anos 90 tinhas uma fanzine… quais as bandas que mais gostavas de publicar?
Fiz a primeira em 89-90 e parei em 97 e fiz umas 5 ou 6. Naquela altura eu só queria sentir-me parte do underground. As minhas primeiras entrevistas eram com bandas de todos os géneros, desde black, death ou doom.
M.I. – Agora as fanzines estão praticamente extintas. Achas que a tecnologia matou o verdadeiro sentido do underground?
É normal sentirmos algum romantismo ao falar disto. Na cena antigamente tinhas de te esforçar para te envolveres, havia um elemento de sacrifício presente que te ajudava a ganhar carácter.
M.I. – Usas o nome Nemtheanga que é um termo da mitologia Irlandesa e que significa “língua venenosa”. Há alguma verdade nisto?
Diz-me tu! (risos) Leste as letras, ouviste a música! Eu espero mesmo que haja alguma verdade!
M.I. – Sei que és fã da Lana del Rey… o que te atrai nela e na sua música?
Hmm, sei lá! É estranho como ela se tornou popular entre metaleiros. Penso que é por ser um pouco narcissista. Consigo ver nela alguma falsidade mas também algo frágil e sensual. É pouco habitual eu gostar deste tipo de música mas gosto.
M.I. – Há quem descreva o som da banda como Primordial Metal. Achas que esta é a melhor definição?
Não sei, para mim é só metal! O que o pessoal lhe chama é-me indiferente. Não me preocupo com isso!
M.I. – No próximo ano vais fazer 40 anos. Alguns acreditam que é um ponto de viragem. A idade afecta-te?
Parece que sim. Claro que já não tenho 16 anos. Ficamos mais velhos e compreendemos melhor a mortalidade e percebemos que mais de metade da nossa vida provavelmente já passou e daqui a nada estamos a entrar na infância idosa. Eu sou um fatalista mórbido muito consciente sobre isto. Penso nisto constantemente. Algumas pessoas não são assim mas eu sou.
M.I. – Tendo em consideração todos os projetos, bandas e afins em que estás envolvido, como estruturas o teu dia?
É simples, não trabalho de manhã… nunca!
M.I. – Deixa uma mensagem aos teus fãs e leitores da Metal Imperium.
Portugal foi um dos primeiros países em que tocamos há muitos anos atrás e esperamos voltar no próximo ano para tocar num festival ou em algum concerto. Veremos o que acontece!
Entrevista por Sónia Fonseca