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Reportagem: For The Glory e Shape @ Art'Rock Café, Loures - 31/01/2015


Quando os membros dos For The Glory se sentaram numa mesa do estabelecimento Art'Rock Café para beber, lá está, um café, estavam talvez longe de pensar que o concerto, por eles proposto e consequentemente organizado, se iria tornar numa tarde bem passada, porque apesar da chuva e dos consequentes arcos-irís, o público apareceu em massa para colorir um espaço confinado e, acima de tudo, celebrar a música num ambiente bastante familiar. Para a matiné, foram convidadas as bandas Shape e Shivan, mas infelizmente só uma se pôde juntar à  festa, uma vez que os Shivan cancelaram a sua actuação. Sendo assim, ficámos apenas com o mid-tempo dos Shape, e o hardcore dos For The Glory, mas com a certeza de que, para a próxima, os Shivan apresentarão o seu heavy metal na máxima força.

Depois das conversas postas em dia, várias cervejas e até jogo de setas - não nos podemos esquecer que estamos num café - os Shape estavam prontos, mesmo com um elemento a menos, para darem início  à sua actuação, isto quando já passavam poucos minutos das 17 horas. A banda entrou forte com o tema "This Is His Life", tema composto por duas partes e pertencente ao último trabalho da banda, "Desistir É Impossível", de 2013. Depois do tema "No Remorse", o vocalista  João aproveitou para agradecer a todos aqueles que compareceram, apesar do tempo austero que se fazia  sentir lá fora. O baterista Morelli aproveitou também para mudar a sua estratégia na forma como  abordava a bateria, uma vez que os seus cotovelos já deviam estar esfolados. Lembram-se quando  referimos anteriormente que o espaço era confinado? Estávamos a falar a sério. Resolvido o problema, seguiu-se "Vampires", um tema de 2011 relativo ao primeiro trabalho da banda e com direito a um coro bastante afinado, por sinal. Devido ao tema que se seguia, intitulado "Cry Me Now", João desabafou sobre a necessidade das  pessoas não guardarem nada, de forma a dizerem tudo aquilo que têm a dizer às pessoas que amam.  Este desabafo proveio do facto do João ter perdido recentemente um ente querido, e da dificuldade de lidar com os remorsos. Tristeza à parte, contámos a seguir com um tema mais alegre, "Ink", dedicado ao "pessoal do graffiti".De seguida, os lisboetas tocaram o portentoso tema "Lost And Dead", a primeira música escrita pela banda, e "WYLD", do seu primeiro trabalho, que contou com a participação especial de um membro do  público, público esse que se mostrou sempre animado e com a lição estudada, e que fomentou timidamente alguns circle pits, apesar do espaço reduzido e da presença de um pilar! Para terminar a actuação, a banda escolheu o primeiro tema do seu primeiro trabalho, e provavelmente  o seu tema mais conhecido, ou seja, "Life's Hard", levando a fervorosa crew ao rubro. Num desempenho que durou cerca de meia hora, os Shape deram tudo, como se de um grande auditório se tratasse, isto porque são de facto uma banda consistente e, guiados pelo seu conturbado vocalista, levam qualquer actuação a bom porto. São definitivamente um nome a ter em conta no panorama do hardcore nacional.

Com o aquecimento já feito, o público preparava-se agora para receber os anfitriões For The Glory que tinham como missão incendiar o resto, visto estarem a jogar em casa. A banda começou com um breve intro e, depois de agradecer aos responsáveis do Art'Rock Café pela oportunidade de tocarem no seu espaço e salientarem o facto de estarem a tocar na sua cidade, instalaram o caos com "Drown In Blood", dando início a circle pits mais animados. Seguiram-se os temas "No Color" e o veloz "110", ambos do álbum "Lisbon Blues", lançado em 2013, e  "Armor of Steel", do álbum "Some Kids Have No Face", de 2011, justamente o nome da malha que a banda  tocou a seguir, não sem antes o vocalista Ricardo Dias referir o papel fundamental que os pais têm em transmitir os valores verdadeiros aos seus descendentes, nomeadamente a honestidade e a educação. Ainda na senda do "Some Kids Have No Face" e como somos todos iguais, segundo o Ricardo Dias, a banda presenteou os fãs com "All the Same", gerando finalmente o primeiro crowdsurf, talvez incentivado pelo vocalista, que repetidamente convidava os presentes a chegarem-se à frente, até porque estava mais "quentinho". Seguiu-se uma viagem pelo disco "Survival of the Fittest", lançado em 2007, com os temas "All Alone", "Fail Me" e uns dos temas mais conhecidos, precisamente aquele que dá nome ao álbum, este com direito a uma grande ovação. Depois dos merecidos agradecimentos aos que se deslocaram até ao Art'Rock Café para fazerem parte deste evento caseiro, os For The Glory disponibilizaram mais dois poderosíssimos temas do último álbum,  a saber "Lisbon Blues" e "Dark Times", para depois terminarem com "Fall in Disgrace", um tema bastante conhecido, que já conta com 11 anos, e que obviamente levou aqueles com boa memória à loucura! Contudo, a actuação não acabava aqui, uma vez que a crew queria mais e a banda gentilmente respondeu com "Life Is A Carousel", tema que conta com a participação do Hugo Andrade, vocalista dos Switchtense, e que Ricardo Dias fez questão de dedicar à banda da Moita, que se fez representar por alguns membros que estavam presentes na sala. A banda acabou a actuação por volta das 18:30 e, como era de esperar, debaixo de uma enorme ovação e com o sentido de dever cumprido.

Com isto, a banda de Loures provou mais uma vez que atingiu um nível de maturidade musical respeitável, sendo um digno exemplo do bom hardcore que se pratica em território nacional, mas, acima de tudo, provou que o espírito DIY está vivo e recomenda-se!


Texto por Bruno Porta Nova
Fotografia por Ana Júlia Sanches
Agradecimentos: For The Glory