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Entrevista aos Borknagar


Øysten Brun é o membro fundador de uma das maiores bandas Norueguesas, Borknagar. Prestes a lançar o 10º álbum da sua carreira “Winter Thrice”, o guitarrista esteve à conversa via skype com a Metal Imperium no passado dia 17 de Dezembro.

M.I. – O 10º álbum dos Borkanagar foi masterizado em Julho e, inicialmente, estava previsto o lançamento no Outono. O que aconteceu para as datas terem mudado?

Há muitas razões mas a mais significante foi o acidente sofrido por um dos vocalistas durante o processo de gravação. Era suposto lançá-lo no Outono mas tivemos de adiar tudo. A mistura era suposto ter acontecido em Janeiro/Fevereiro mas, devido ao acidente, não foi possível, já que ele ainda não tinha recuperado. Esta é a razão de todo o atraso.


M.I. – O título “Winter thrice” refere-se aos três invernos contínuos (Fimbulvinter) que, de acordo com a mitologia nórdica, prevêm a queda do mundo (Ragnarok). Porque escolheste este título?

Muitos me perguntam se este álbum tem alguma afirmação política mas não tem mesmo, é uma cena mais pessoal. Todos os membros da banda fizeram 40 anos, à excepção do baterista, portanto tem mais a ver com o facto de termos atingido a meia-idade! [Risos] Já está na altura de percebermos que a vida não durará eternamente, é muito frágil e curta. Esta abordagem é um pouco pessoal e filosófica e não é de todo uma análise das condições do mundo actual. Não somos uma banda política ou religiosa. O álbum é um conceito e o título tem aspectos de material anterior… é como um ciclo da vida. Adoro fazer essas ligações entre o material porque faz com que o novo material encaixe, não seja apenas mais um álbum sem ligação nenhuma ao material previamente lançado. De certa forma, “Winter Thrice” leva-nos numa viagem aos álbuns anteriores e é assim que nós gostamos de trabalhar.


M.I. – O artwork é impressionante. Quem o desenhou?

Foi Marcelo Vasco, um grande amigo meu. Já trabalhamos juntos em diferentes projectos. Ele ganhou popularidade com os trabalhos que fez para Slayer, Soulfly e outras bandas. Nós não falamos a mesma língua, já que ele é brasileiro e fala português e eu falo norueguês mas entendemo-nos perfeitamente. É super fácil trabalhar com ele, mesmo à distância. Habitualmente damos-lhe palavras chave e ele desenvolve imagens a partir daí, dando-lhes uma perspectiva diferente da nossa. É um prazer trabalhar com ele, pois não é preciso estar sempre a explicar-lhe as coisas, ele compreende rapidamente o que é pretendido.


M.I. – Tens sido o principal compositor da banda mas é costume vocês juntarem-se para escrever novo material? Como é que este processo acontece?

Bem, eu escrevo a maior parte do material, as letras e os arranjos básicos mas  costumo dizer que só faço o rascunho a preto e branco e a banda depois ajuda-me a colorir. Costumo demorar cerca de dois meses a escrever os temas mas depois demoramos cerca de quatro ou cinco meses a produzi-los, pois tentamos experimentar ideias diferentes e mudar certos pormenores dos temas. Eu faço a base mas o trabalho substancial é feito em conjunto, e essa é a parte mais desafiante e divertida de todo o projecto, é aí que a música começa a ganhar forma. É interessante saber o que os outros membros são capazes de fazer, já que há certas ideias que eu nunca teria e a magia está mesmo nisso… este álbum é um trabalho de equipa. Eu vivo na costa norueguesa, outro vive na Suécia e os outros vivem no centro e arredores de Oslo, portanto não nos encontramos com muita frequência. Estamos sempre em contacto e a enviar ficheiros uns para os outros, estamos mesmo focados na música. Há uns anos atrás, perdíamos mais tempo a socializar e a beber cervejas em vez de trabalharmos na nossa música, mas agora eu tenho a facilidade de trabalhar no meu próprio estúdio e todos temos o foco bem definido.


M.I. – Agora que têm responsabilidades de adulto (empregos, família), a criatividade flui tão bem como há uns anos atrás?

Claro que sim, até melhor! Costumo dizer que a bateria do telemóvel perde a carga mas a minha inspiração não! A vida em si é a minha inspiração e enquanto eu estiver vivo, haverá sempre algo com que trabalhar. Quando envelhecemos, amadurecemos e eu tenho a minha vida estabelecida, com mulher, casa, filhos e não tenho nenhum grande problema, portanto consigo mesmo concentrar-me na música. Quando estou a trabalhar, estou mesmo muito focado. Posso dizer que me sinto mais inspirado do que nunca e espero que tal seja um bom sinal.


M.I. - A sonoridade de “Winter Thrice” é imediatamente reconhível como Borknagar. Qual é o segredo para conseguires escrever sempre temas tão bons e tão épicos?

Bem, não sei. Há muitas razões: já faço isto desde que tinha 15 ou 16 anos e já lá vão 24 ou 25, já é parte integrante da minha vida. Posso dizer que já é como uma boa rotina para mim! A música inspira-me, faz com a que minha vida seja mais fácil, sinto-me mais energético. Agora que tenho um estúdio profissional, tenho a oportunidade de gravar em boas condições. É complicado apontar um motivo único, simplesmente não me iludo a pensar que isto é um hobby, pois é parte de mim. Depois de tantos anos a trabalhar nisto e de ter escrito e composto tantos temas, já tenho noção do que devo fazer de modo a que um tema funcione melhor!


M.I. – Pela primeira vez, o álbum inclui uma faixa com o mesmo título. Porque decidiste fazê-lo agora?

Basicamente por este ser um álbum especial. É o 10º álbum e queríamos fazer algo que fosse especial. As peças encaixam e, quando concluímos o tema “Winter Thrice”, achamos mesmo que tinha de ser o título do álbum também, pois destacava-se de todos os outros, tinha vida própria. É um tema marcante que também comporta um pouco de todo o conceito do álbum, portanto era a escolha mais evidente.


M.I. – O álbum conta com as vozes de Vintersorg, ICS Vortex, Lazare e até o vocalista original Garm. Isto por si só já é espectacular! O que é que os fãs podem esperar de “Winter Thrice”?

Por querermos comemorar o nosso 10º álbum, decidimos fazer algo muito especial mesmo! Não queríamos fazer um CD ao vivo, porque eu sou da velha guarda e não gosto desse género de coisas e prefiro álbuns normais. O especial mesmo são os arranjos vocais e, desta vez, queríamos exceder todas as expectativas. Inicialmente iríamos simplesmente incluir o Garm em pequenas partes de alguns temas mas, durante a gravação, decidimos gravar mais do que estava inicialmente previsto. Tentamos mesmo fazer algo diferente e especial e acho que é um bom álbum.


M.I. – O lyric video “The rhymes of the mountain” foi muito comentado e havia quem achasse que todos os vocalistas participavam nele.

O Garm não canta nesse mas cantam os quatro no tema título “Winter thrice” e por isso é que é um tema especial.


M.I. – A banda recentemente fez um vídeo que ainda não foi lançado. Para que tema?

Para “Winter thrice”. Será lançado em breve, mas estamos a fazer as edições finais… penso que será lançado no dia de Natal.


M.I. – Será como um presente de Natal para os fãs!

Eu ouvi dizer que será lançado nessa altura mas não tenho a certeza que seja mesmo assim.


M.I. – A banda fez 18 anos este ano… esperavas que este teu “bebé” vivesse tanto tempo? 

[Risos] Não! Quando comecei, estava simplesmente a fazer o que queria com música melódica. Nunca sonhei ser famoso ou uma estrela de rock, eu estava simplesmente a fazer música. Tem sido espectacular andar em tournée, lançar álbuns  e conhecer todos os fãs. É uma grande aventura e nunca imaginei que fosse assim. Às vezes é surreal. Eu sou um tipo do campo, não sou muito social, gosto de estar no meu estúdio e, para mim, tocar num festival é mesmo brutal. É um pouco difícil adaptar-me porque vivo uma vida normal e simples. Quando lançamos um novo álbum, tenho de me encontrar com todos os jornalistas e tal, é fixe e satisfaz-me porque sinto-me grato por todas aquelas pessoas quererem ouvir a minha música. Já me habituei mas é surreal perceber o quão poderosa a música é. Sinto-me privilegiado por fazer o que adoro!


M.I. – A maior parte dos vossos álbuns foi lançada pela Century Media. Tem sido uma longa relação, não é?

Sim, de certa forma. Tem havido altos e baixos mas os tipos são óptimos e isso e muito confortável. O primeiro contrato foi com eles, depois fomos para a Indie Records mas não funcionou muito bem e voltamos para a Century Media. Tem sido excelente, sem queixas, porque eles adoram a música e promovem-na. Eles dedicam-se profundamente e isso impressiona-me porque é uma grande editora. Evidentemente, há sempre o lado monetário mas eles fazem um bom trabalho.


M.I. – A banda tem um novo produto à venda: óleo para barba. Como surgiu a ideia?

[Risos] Foi uma cena divertida que umas pessoas nos propuseram. Eles são fãs da banda e um deles é promotor de um festival na Eslovénia, se não estou em erro. Eles perguntaram-nos se estavamos interessados e, já que todos temos barba, dissemos que sim. Não é nada extraordinário mas há tantas bandas a lançar cenas diferentes que nós decidimos fazer igual.


M.I. – Pode então dizer-se que já que estais a ficar carecas, decidiste dedicar mais cuidados aos pelos do queixo? [Risos]

[Risos] Parece-me que sim. Eu já o experimentei e é muito bom. Deixa a barba macia e cheira bem. O pessoal deve experimentar também! 


M.I. – Há planos para lançar um produto para as mulheres?

Não me parece mas nunca se sabe. Para nós fazia sentido lançar o óleo para a barba mas não foi um processo iniciado por nós, foi uma companhia que nos abordou.


M.I. – Há planos para uma tournée? Portugal estará incluído?

Não tenho a certeza. Já andamos a falar em fazer uma tournée mas ainda não sabemos aonde iremos. Já temos confirmado o Wacken e o Graspop e outros festivais mas ainda não vi Portugal na lista.


M.I. – Pensas que será possível andar em tournée com todos os vocalistas ou é só um sonho?

Seria um sonho para mim também, mas não me parece mesmo que tal vá acontecer. O Garm não é muito dado a essas cenas ao vivo. Seria um sonho mas eu não tenho a certeza que tal acontecerá… teremos de esperar para ver.


M.I. – Sendo o membro fundador da banda, estiveste presente em todos os bons e maus momentos… quão complicado é estar numa banda?

É complicado até um certo ponto, mas nem sempre. Tento focar-me em fazer música. Não há dinheiro nem riqueza envolvida, temos de sacrificar muito. Não sou um tipo social porque quase nem tenho tempo livre e, quando tenho, tenho de o “gastar” inteligentemente. Eu só quero viver uma vida normal e relaxar no sofá! [Risos] Mas tenho de me dedicar à música e fá-lo-ei enquanto sentir esta paixão. Detesto a parte dos contratos e acordos, porque eu não quero ser advogado, eu quero tocar! Tento focar-me nos aspectos positivos e resulta.


M.I. – Agora que estais a planear uma tournée, os recentes ataques de Paris não vos assustam? Não receias que vos possa acontecer o mesmo?

Não, não posso permitir-me tal medo. É horrível que tenha acontecido e eu nem tenho palavras para descrever o que sinto. Mas, nem pensar, não tenho medo. Se acontecer, aconteceu, mas não serei um escravo do medo. Prefiro pensar “Ok, vamos tocar em Paris!” do que deixar que o medo me domine porque é isso que eles querem.


M.I. – Como pai, qual consideras ser a melhor lição/valor que deves passar aos teus filhos?

Um dos mais importantes mesmo é não aceitar injustiças. Ensino-lhes que se virmos pessoal a sofrer de injustiça, devemos fazer algo e não afastarmo-nos sem nada fazer. Se virmos algo assim, não podemos aceitar e fazemos algo para o parar. Temos de nos queixar e reclamar se virmos injustiça.


M.I. – Ontem foste ao cinema ver o último episódio da saga Star Wars. Sem adiantares pormenores relativos ao filme, o que achaste?

Foi muito especial porque sou fã desde miúdo. Há uns anos tive um amigo meu a trabalhar nos filmes e tive acesso a informação privilegiada. Ontem, havia uma grande confusão pois todo o pessoal estava a tirar fotos com as personagens. O filme em si foi muito bom e fiquei satisfeito mas houve elementos que, na minha opinião, não funcionaram muito bem. De qualquer modo, foi melhor do que alguns episódios anteriores.


M.I. – Tu também partilhaste uma foto com o Darth Vader.

Foi a foto com mais likes que partilhei nos últimos tempos. 


M.I. – Agora que 2015 está a chegar ao fim, o que desejas para ti e para os Borknagar em 2016?

Desejo que consigamos fazer a tournée e que seja espectacular. Quero escrever música nova e espero que continue a haver uma boa química entre todos os membros. Enquanto estivermos a fazer o que fazemos, eu estarei feliz.


M.I. – Obrigada pelo teu tempo. Desejo-te tudo de bom. Deixa uma mensagem aos fãs portugueses da banda.

Espero que os nossos fãs e amigos ouçam o álbum e que o apreciem. Espero voltar novamente a Portugal. Fiquem bem.


Entrevista por Sónia Fonseca