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Entrevista aos Dimmu Borgir

Os Dimmu Borgir dispensam todas as apresentações. Prestes a comemorar 25 anos de carreira, os noruegueses vão fazer de 2017 o ano do seu regresso monumental. No final de Abril será lançado o DVD/BluRay “Forces of the Northern Nights” e, no final do ano, podemos contar com o novo álbum. Um dos mentores da banda, Silenoz, esteve à conversa, via Skype, com a Metal Imperium e revelou detalhes sobre o que podemos esperar.

M.I. – A banda está prestes a comemorar 25 anos de existência. As coisas correram como tinhas imaginado?

Na verdade, não! [Risos] Nunca pensámos chegar aqui e penso que as bandas nunca pensam isso quando estão a começar. Mas, passado um tempo, começas a ter mais ambição. No início começamos a tocar para nos divertirmos… mas as coisas foram evoluindo e, a certa altura, decidimos que era isto que queríamos.


M.I. – Qual a maior diferença entre os Dimmu Borgir na década de 90 e agora?

Penso que estamos mais conscientes de tudo. Talvez tenha a ver com a idade e experiência que não tínhamos em 93 por sermos demasiado novos. Mas o sentimento ainda é o mesmo, ter a vontade de fazer algo diferente, fazer algo que podes defender a 110%, gostar de algo que não consideras trabalho… apesar de, por vezes, ser bastante trabalhoso estar numa banda, mas não é o mesmo que um trabalho numa fábrica ou algo do género. Respeito profundamente todos aqueles que se dedicam ao seu trabalho, seja o homem do lixo ou outra profissão qualquer. O que fazemos é divertido e, temos bons e maus momentos, mas quando reflectimos, apercebemo-nos que os bons momentos são tão bons que se sobrepõem aos maus. 


M.I. – 2017 vai ser o ano do regress monumental dos Dimmu Borgir… o que é que os fãs podem esperar?

Antes de mais, podem esperar pelo DVD que sairá no final de Abril e que já deveria ter saído há uns anos e, com o passar do tempo, percebemos que o melhor seria lançá-lo mais perto do lançamento do novo álbum. Estamos muito satisfeitos com o facto de podermos lançar este enorme documento dos maiores concertos que fizemos e, por si só, isso já é um grande feito. Isto acaba por ser uma espécie de teaser para o novo álbum, que estamos a finalizar e que sairá este ano. Por isso é que estou a ligar da Suécia! Vai ser um ano interessante e é bom estar de volta, sentimo-nos confiantes com o novo material em que temos estado a trabalhar intermitentemente nos últimos anos. Temos estado fora do radar, e nem temos tocado ao vivo, penso que a última vez foi em 2014, mas fazemos sempre uma pausa no final de cada tournée mundial, só que, desta vez, a pausa foi mais longa do que devia e eu podia estar para aqui a dar-te imensas razões para tal mas iam soar como simples desculpas, por isso nem digo nada! [Risos]


M.I. – Quem são os actuais membros da banda? Na informação da editora, só menciona Silenoz, o Shagrath e o Galder... são só vocês os três? 

Sim, fazemos isso para que distinguir a parte criativa da parte administrativa da banda. Isso mostra quem é a parte criativa desde que o Galder se juntou à banda há 17 anos. Não quero desvalorizar os antigos membros mas o trio criativo temos sido nós e continuará assim porque funciona bem. Não tenho a certeza se será o melhor mas é a melhor maneira de nós funcionarmos e não queremos mexer nisso nesta altura das nossas carreiras.


M.I. – Falemos do DVD/BluRay... é uma grande e espectacular produção! Penso que terá envolvido uma logística massiva. Sei que havia inúmeras câmaras mas sabes quantas exactamente?

Obrigado! Sim, em cada um dos concertos tínhamos entre 16 e 22/23 câmaras, por isso foi mesmo uma grande documentação de um espectáculo ao vivo.


M.I. – Estiveste envolvido na logística ou só estavas lá para tocar?

Nós fizemos parte da preparação e tínhamos sempre uma palavra sobre o que era feito mas, por norma, deixamos o trabalho de filmagem para os peritos da área, apesar de vermos tudo com eles, porque eles nem sempre as letras dos temas e tínhamos de jogar com isso, portanto se tivermos muitas câmaras, a probabilidade de alguma apanhar o que se pretende é maior. Tudo funcionou muito bem, reeditamos algumas filmagens de ambos os espectáculos, porque algumas partes saíram no Youtube há alguns anos, mas trabalhamo-las para elas ficarem como pretendíamos. A dinâmica de ambas as orquestras nota-se melhor nesta versão pois a mistura ao vivo tem mais vida, é mais energética e melhor.


M.I. – Como tem corrido a procura do DVD/BluRay “Forces of the northern night” que se encontra em encomendas antecipadas?

É uma boa questão mas não tenho dados para responder. A julgar pela resposta dos fãs, principalmente na página do Facebook e daqueles que foram aos 2 concertos, tem corrido bem. O pessoal pode escolher o DVD do concerto que pretende. Estes são 2 documentos monumentais da nossa história e seria errado guardá-los e não os partilhar com os fãs.


M.I. – O título “Forces of the northern night” é uma alusão ao verso do tema Dimmu Borgir: “Forces of the northern lights, assemble, Forces of the northern nights, call to arms, Summoned by the secrets of sacrifice”… porquê este título? 

Sim, sinto que capta a essência do que nós somos, para além de ser um jogo de palavras. Mostra-nos como trio criativo em termos de escrita e que sabemos escrever temas, como sempre fizemos. Alguns ex-membros da banda recebem demasiado crédito dos fãs mas o que as pessoas de fora vêem é uma coisa, o que eu vejo de dentro é outra, mas isso é passado e não vale a pena estar a falar disso... a nossa força está intacta e penso que é um título adequado para o DVD/BluRay.


M.I. – No DVD/BluRay do concerto de Oslo em 2011 tocaste com a Norwegian Radio Orchestra and Choir e no Wacken Open Air em 2012 com a National Czech Symphonic Orchestra: Sei que não devia perguntar isto porque vai soar a maldade, mas... com qual gostaste mais de tocar? 

[Risos] É uma pergunta difícil mas não penso que seja malvada. Penso que se o Wacken tivesse sido o primeiro concerto, isto não teria acontecido. Imagina tudo aquele material e pessoal no palco, todos os microfones a gravar, todos os canais preparados... como começamos em Oslo e tivemos tempo de testar tudo, mais 3 ou 4 dias de ensaio, fez sentido. Mas se tivesse sido ao contrário, talvez tivéssemos dito que não. Estou contente por termos feito o concerto em Oslo e correu tudo bem, desde a logística à parte técnica. Muitas cenas poderiam ter corrido mal, sabes? Fazer o Wacken foi um risco, mas diria que as diferenças entre as orquestras não são assim tantas. Afinal, ambas tocam a partir das mesmas notas, ambas têm muita experiência e estão acostumadas a tocar vários géneros musicais e não só música clássica, o que vinha mesmo a calhar no nosso caso. Havia músicos mais conservadores em ambas as orquestras que, após os concertos, nos confidenciaram que tinham sentido receio por fazer isto mas, depois de o fazerem, sentiam mais respeito por nós. Foi muito porreiro, pois significa que viram algo em nós. Foi muito fixe!


M.I. – O concerto em Oslo foi numa sala de espectáculos e em Wacken foi num festival ao ar livre e começaste a tocar de dia... isso fez uma grande diferença?

Do ponto de vista visual, é muito diferente. Tínhamos muita pirotecnia no Wacken e, como era ao ar livre, os instrumentos clássicos podem sair de tom mais facilmente. É um factor em que nem se costuma pensar porque as orquestras afinam de ouvido. Numa sala é diferente do que tocar fora. O desafio é maior e no Wacken foi ainda mais porque tínhamos os sinais de indicação das câmaras para cada instrumento e foi mais difícil misturar e finalizar do que o concerto de Oslo. Em Wacken tivemos 45 minutos de preparação no palco e em Oslo tivemos 2 dias.


M.I. – Porque usaste duas orquestras diferentes?

A cena com o espectáculo de Oslo foi que a Orquestra KORK nos abordou antes de começarmos a gravar “Abrahadabra” e desafiou-nos a fazer um concerto com eles... é bom que fique claro e devo frisar que foram eles que nos abordaram! [Risos] A parte logística e os custos foram mais fáceis de controlar porque a orquestra é financiada pelo estado e isso tornou o espectáculo possível. Tocamos em Oslo e depois recebemos o convite para o Wacken e dissemos que só o poderíamos fazer se tivéssemos isto e isto porque fazer uma cena destas custa uma fortuna mas... fazemos tudo pela arte! Foi um risco tocar no Wacken mas pareceu-nos ser o mais acertado. Se o conseguimos fazer dentro de uma sala, também o poderíamos fazer ao ar livre e... lançamo-nos aos leões!


M.I. – Tiveste de ajustar o som da banda ao som da orquestra?

Não. Só tínhamos o kit da bateria dentro de uma espécie de jaula de vidro por causa do ruído do címbalo e basicamente foi isso. O teclista tem sempre os monitores. O truque era ter o som baixo no palco, porque se tens o som alto, vai ser complicado conseguir uma mistura limpa do som e da voz. Algum pessoal notou que o som em Oslo estava baixo porque era suposto estar a ser gravado. Não acredito que mais alto signifique melhor, pois ainda precisa de uma boa mistura.


M.I. – Foi fixe ver os membros da orquestra a curtirem o som durante o concerto! Tinhas fãs na orquestra antes de tocar com eles?

Alguns deles já nos conheciam, principalmente na orquestra KORK, até foram dois membros que tomaram a iniciativa e fizeram com que o resto dos membros aderisse à ideia. Por isso, agradeço aos fãs que tornaram isto possível!


M.I. – Neste DVD/BluRay, vocês não prestaram atenção aos álbuns que lançaram na década de 90. O DVD/BluRay não inclui nenhum tema de Spiritual Black Dimensions, For All Tid ou Stormblast. Porque é que deixaste estes álbuns de fora?

É uma boa pergunta porque, na minha opinião, temos temas fabulosos no Spiritual e no Stormblast. Não temos prestado muita atenção ao Spiritual mas vamos tentar mudar isso. A maioria dos fãs curte mais os últimos álbuns e, quando tocamos temas mais antigos, só uma pequena percentagem de pessoas é que os reconhece. Não significa que não os devemos tocar, mas é mais desafiante e é complicado convencer os fãs a ouvir o nosso material mais antigo.


MI. – Bem, mas eu faço parte dessa pequena percentagem e sinto saudades de vos ouvir tocar esses temas. Lembro-me bem do dia em que recebi uma cópia de Stormblast que o Shagrath me enviou e fiquei mesmo boquiaberta. Adoro esses álbuns e foi uma desilusão não os ver incluídos no DVD/BluRay.

Foi uma espécie de compromisso, já que tínhamos acabado de gravar “Abrahadabra” com a Orquestra KORK e ao fazer o concerto com eles, esse álbum tinha de ser o foco principal. Um ano mais tarde, tocámos no Wacken e podíamos ter alterado alguns temas mas isso implicava mais logística e trabalho para nós. Para além disso, o tipo que ajudava na transcrição dos temas não estava disponível. Foi uma pena mas os temas usados são adequados para este tipo de lançamento. Não sou contra fazermos algo assim novamente. Imagina se o pudéssemos fazer em Londres, Los Angeles, Sydney...


M.I. – Lisboa, Porto...

Pois, claro, nesses sítios todos. Se estiver tudo em ordem, não podemos recusar! Mas, neste momento, o nosso foco está em terminar o álbum e preparar uma tournée mundial que cubra o maior número de cidades possível, sítios onde ainda não fomos. Será uma grande tournée mas, depois de concluída, se for a altura certa e houver dinheiro, quem sabe? Tudo é possível depois de termos feito estes dois espectáculos! 


M.I. – Disseste que, comparado com a orquestra e o coro, a banda não era profissional. Porquê? Não achas que és um músico profissional?

Sim, nós somos profissionais mas chegamos à conclusão que há músicos mais profissionais! [Risos] Aprendemos muito com estas duas experiências... o modo de abordar a nossa criatividade e a nossa música. Cada situação requer muita ponderação, muito planeamento... era a isso que me referia quando disse isso. Aprendemos muito e vamos levar essas aprendizagens connosco para o nosso álbum e para as tournées.


M.I. – No dia 22 de Janeiro, a banda postou no Facebook: “Voices of the Apocalypse – concluído... estão terminadas as sessões de gravação com Schola Cantorum Choir.” Eles tocarão convosco no novo álbum?

Sim e já gravaram a parte deles. Estamos a terminar a mistura na Suécia e estamos quase lá. É um sentimento óptimo. É difícil de dizer e de explicar mas este é o melhor da nossa carreira, para além dos dois concertos! Todas as bandas dizem o mesmo, que o próximo álbum será o melhor de todos, é um cliché, eu sei, mas tenho de acreditar nisso, caso contrário por que razão gravaria um novo álbum se achasse que não era capaz de fazer melhor?! Não podemos forçar a criatividade, ela vem quando lhe apetece e, por isso, é que temos estado a escrever material assim tão espaçadamente. E agora estamos aqui e quando os fãs ouvirem isto, todos os anos de espera e impaciência, que eu percebo perfeitamente, serão reduzidos a nada e vai ter valido a pena esperar. Estamos a fazer o que achamos ser o melhor! Há uma grande diferença entre fazer um álbum por fazer e fazê-lo porque o queres fazer. E nós fizemo-lo porque quisemos!


M.I. – A nota da editora refere que o novo álbum não será para fracos e vocês já disseram que os concertos foram o pico da vossa carreira até ao momento. O que ides fazer para superar tudo isto?

Vais ter de esperar para ver! [Risos] Eu até te podia pôr algo a tocar ao telefone já que estou no Fascination Street mas o pessoal já foi embora e eu não quero tocar em nada para não estragar o sistema! [Risos]


M.I. – Quando poderemos ouvir algo então?

Nós temos estado fora de radar, ninguém está no estúdio a filmar, estamos lá sozinhos e queremos manter assim as coisas porque estamos a trabalhar... não estamos lá para nos exibir... isso vem mais tarde! [Risos] Tenho a certeza que haverá trailers, lyric vídeos, clips para promover o novo material. Se dependesse de mim, o novo álbum sairia no final do Verão, mas tudo depende de sermos capazes de cumprir prazos e cenas assim.


M.I. – Um destes dias postaste no Instagram uma foto com a legenda “The Aeon Nomad”. O que significa? Tem a ver com o novo álbum?

O quê? [Risos] Isso és tu a especular!![Risos] Mas já não é segredo que este álbum não será conceptual, que as palavras referem-se a nós e a tudo como sendo intemporal, que sempre fomos e sempre seremos intemporais... não há início nem fim e se há início, há um fim e há um novo início, portanto será complicado explicar as letras. Quando começar a promover o novo álbum, já decidi que não falarei das letras porque percebi que existem 3 ou 4 significados possíveis para cada uma. O poder das palavras juntamente com a música e com a voz do Shagrath, será como um murro no estômago. Ouves um tema agora e pensas numa cena e depois ouves outra vez e já pensas noutra. Cada um terá de tirar as suas conclusões porque eu só posso interpretar as letras do meu ponto de vista subjectivo.


M.I. – Disseste que, quando entras em palco ou num avião, pões sempre primeiro o pé esquerdo. Porquê? É algum tipo de superstição?

Sim, também o faço quando entro no carro, não quando saio! [Risos]  Não diria que sou supersticioso porque estaria a dar muita importância à fé, diria que sou um tipo de pessoa que gosta de explorar e, quando levantas a tampa da caixa, está tudo acabado, porque a partir daí é sempre a descer. 


M.I. – Uma banda como os Dimmu Borgir devem ser aliciados por várias editoras mas vocês mantêm-se com a Nuclear Blast. Porquê? Eles respeitam o vosso ritmo e criatividade?

Esse é um dos aspectos mais importantes. Eles nunca interrompem nem interferem com a parte criativa da banda. Mas isto aplica-se a todas as bandas da editora, e por isso é que eles estão a prosperar. Tanto quanto sei, a Nuclear Blast continua a crescer, porque têm o mesmo tipo de mentalidade das suas bandas. Todos começamos pequenos e sem grandes ambições e depois crescemos. 


M.I. – No documentário dizes que nunca usas maquilhagem testada em animais. És vegetariano?

Não sou mas estou seriamente a pensar nessa hipótese. Já há anos que tenho essa ideia mas ainda como carne, apesar de comer muito menos do que a que comia. Penso que, se continuar a consumir pouca carne, só irei consumir o que for eu próprio a matar... bem, mas esta pergunta é diferente... [Risos]!


M.I. – Estás habituado a maquilhar-te... já tiveste amigas que te pedissem para as maquilhares?

Não para as maquilhar mas para lhe encomendar cenas. É importante ter certos tipos de maquilhagem quando a usas durante longos períodos de tempo, porque não queres que te estrague a pele.


M.I. – Nestes anos de pausa, tiveste mais saudades do quê? Da adrenalina de andar na estrada?

Sim, obviamente não tenho saudades dos autocarros fedorentos e das esperas nos aeroportos mas tenho saudades de estar em palco a interagir com os fãs. A energia difere de lugar para lugar, é assim mesmo, uma troca de energias. Tocar uma noite de Segunda-feira num buraco no Kansas pode ser mais intenso do que um festival cheio de pessoal. 


M.I. – Como te sentes quando encontras fãs que viajaram de longe para vos ver ou pessoal que fez tatuagens das vossas letras ou símbolos?

Fico orgulhoso e também quando recebo cartas de pessoal a expressar a sua gratidão e a dizer que as nossas letras ou músicas salvaram as suas vidas ou casamentos. É muito duro mas é bom ouvir isso. Sinto-me forte e orgulhoso. Quando estava a crescer também me refugiei na música e foi aí que me encontrei, portanto consigo compreender. 


M.I. – Espero que regressem a Portugal em breve para podermos ouvir o novo álbum. Deixa uma mensagem com os fãs portugueses.

Espero regressar em breve. Primeiro, quero saudar o Rune, meu amigo que vive em Portugal, e a sua esposa e os fãs que nos têm apoiado. Lembro-me de receber cartas de Portugal na década de 90. Já passaram alguns anos desde que tocamos aí e quero voltar para partilhar o DVD e o novo álbum com vocês. Estou grato pelo vosso apoio.


Entrevista por Sónia Fonseca