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Reportagem: No Fun At All, Artigo 21 e To All My Friends @ RCA, Lisboa – 23/02/2018


Que da Suécia não vem só mobília fácil de montar já todos nós sabíamos. Mas que uma banda com quase 20 anos de carreira demonstrasse uma vitalidade rara em comparação a outras semelhantes já é mais surpreendente. O RCA esgotou para testemunhar o regresso a Lisboa dos No Fun At All, a banda mais emblemática do skate punk europeu.

O aquecimento esteve a cargo dos setubalenses To All My Friends (TAMF), cujos sorrisos em palco demonstraram inequivocamente a enorme alegria por fazerem parte do cartaz deste concerto. Apesar de ainda se notarem grandes clareiras na sala quando soaram as primeiras notas do Intro, a banda arrancou de coração na boca com “Forever With You”. Apesar de ainda jovem, a banda anda a promover o LP de estreia “Head Above Water” de norte a sul, concentrando os seus 40 minutos de fama nas melhores faixas do disco. “Complicated” antecedeu “All I Want”, com uma actuação bastante enérgica de toda a banda, com especial enfoque para o guitarrista Diogo, que parecia possuído em palco. “Dressed In Red” motivou algumas tentativas de crowd surfing para uma plateia ainda pouco recheada, e “FRIENDS” foi antecedido com um enorme agradecimento a quem tem seguindo a banda e quem apoia o underground, aproveitando o vocalista Miguel para anunciar que a faixa tem já vídeo disponível nas redes sociais da banda. A tripla final chegou com “One Step Back”, “Take My Hand” e “Pieces”, recebida com bastante agrado pela plateia e que encerrou com chave de ouro a performance dos TAMF.

Afastados dos palcos há alguns meses em virtude de estarem a preparar um novo disco de originais, os Artigo 21 deram um dos melhores concertos que tive o privilégio de assistir. Para uma sala já a 85%, a banda liderada pelo vocalista Tiago Cardoso esteve sem falhas ao longo dos 45/50 minutos de actuação, aquecendo e de que maneira os presentes. A importância da actuação pareceu diminuir alguma fogosidade em palco, claramente compensada com a qualidade de som, e foi perceptível que aí vem um disco com grandes malhas!

“Utopia” abriu a actuação, com a plateia imediatamente a reagir e a acompanhar a banda no refrão, seguindo muito rapidamente com “Máscara”, que fez mexer a sala, entretanto quase perto da lotação esgotada. “Mudança” antecedeu a altura para Cardoso explicar que a banda está em processo de gravação do segundo disco de originais, e aproveitar o convite feito pelas promotoras Hell Xis e Infected Records para cumprirem o sonho de tocar no concerto de uma das referências dos Artigo 21. O RCA foi então presenteado com duas novas faixas, “Tentar Não Vacilar” e “Ilusão”, a deixar água na boca dos presentes. O final da curta actuação foi deixado para os clássicos “Ódio Não É Amor” e “Espera Por Mim”, com grande trabalho ao despique dos guitaristas Hipólito e Xiko, e com um RCA esgotado em uníssono.

Depois de duas paragens para pensar o futuro, os suecos No Fun At All decidiram em 2013 voltar aos palcos e levar o seu skate punk a todos os cantos do mundo. Sem uma edição discográfica desde 2008 (“Low Rider”), e ausentes dos palcos nacionais desde 2012, a banda de Ingemar Jansson conseguiu mesmo assim esgotar com dias de antecedência a sala do RCA. E bastou olhar para a setlist que foi colocada junto à munição de palco para ver que esta noite iria ser memorável. 23 faixas, entre mega-clássicos e novidades!!
Bastaram os primeiros acordes de “Believers”, do velhinho “No Straight Angles” de 1994, para iniciar imediatamente o mosh e o crowd surfing, que acompanhou sempre a actuação de quase 2 horas. Do primeiro LP sairam do palco verdadeiros hinos que, percorrendo a plateia e vendo a média de idades bastante elevada, leva a crer que muitos dos presentes andou de skate nos anos 90 ao som de "Wow and I say Wow”, “Growing Old Growing Cold”, "Strong and Smart” ou “Evil Worms”, esta já num encore espectacular, onde couberam também as faixas do segundo disco da banda, “Out of Bounds (1995), "Beat’em Down”, “I Have Seen”, e a apoteose final com “Master Celebrator”.
Antes porém a banda percorreu toda a sua discografia, do já referido “Out of Bounds” com “Perfection”, “In a Rhyme”, “Out of Bounds” ou “In a Moment”; ao EP “Vision”, que marcou o início da banda em lançamentos discográficos no já longínquo 1993, com “I Won’t Believe In You”; passando pelo disco de 97 “The Big Knockover”, em que marcaram presença "Catch Me Running Round”, “Suicide Machine”, “Should Have Known” ou “Lose Another Friend”; e ainda “Mine My Mind” e “Never Ending Stream” do ultimo “Low Rider”.

Mas com a banda a ter terminado a gravação de um novo disco em Novembro do ano passado, estranho seria não haver novidades no alinhamento. “Spirit” foi a primeira a sair do “saco”, com uma partida falsa por culpa do pedal do bombo, e até ao final os NFAA mostraram ainda mais duas estreias, “Simple” e “Humdrum Way”. A banda por diversas vezes enalteceu a entrega do público presente, que suou as estopinhas para acompanhar a energia da banda, reforçada agora com os novos elementos Fredrik Eriksson na guitarra e Stefan Bratt no baixo, os “jovens”, como disse Jansson.


O vocalista prometeu regressar em breve para mostrar o novo disco e quem marcou presença nesta sexta-feira com toda a certeza vai regressar para assistir.

Texto por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: HellXis