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Reportagem - 21º SWR Barroselas Fest - Dia 3 - 29/04/2018


O terceiro dia da 21ª edição do SWR Barroselas Fest começou com nada menos do que um trio de bandas do nosso país irmão do outro lado do Atlântico, o Brasil. Na tenda SWR Arena apresentaram-se os Helllight com o seu funeral doom metal, logo seguidos dos Jackdevil e o seu thrash metal tradicional. Ambas com boas prestações mas a não deixar grande saudade na pouca audiência que, sem dúvida, ainda curava os excessos de qualidade da noite anterior. 

No palco secundário os paulistas Andralls e o seu thrash metal. O trio passou em revista toda a sua discografia, deixando a plateia satisfeita com a entrega. A destacar alguma faixa apresentada, ela teria de ser “Rotten Money”, que vem já de “Force Against Mind” de 2003.

O palco principal arrancou pelas sete da tarde com a presença dos enigmáticos Altarage. Oriundos do País Basco, mais concretamente de Bilbao, mostraram todo o seu black metal baseado em histórias de horror, com o quarteto escondido atrás de finos véus negros que ocultavam a sua identidade. Focaram a sua performance em “Endinghent” do ano passado e ainda bem. O novo material é substancialmente melhor que a estreia “NIHL” e Barroselas foi testemunho disso. “Orb Terrax” e “Barrier” foi o encerramento perfeito para o arranque deste palco. Por terras espanholas prosseguiu o desfile de bandas neste terceiro dia de Metal Fest, com o punk galego dos Black Panda, que traziam consigo uma vasta falange de apoio. Um punk a raiar o crust com momentos interessantes mas pareceram desinspirados a espaços. O arranque com “Redneck 2.0” ainda prometeu muito, mas a realidade é que só com as últimas duas faixas, “Surfistas Nazis” e “JC vs LK” é que a banda se reencontrou...

Os ingleses Dyscarnate motraram um death metal old-school mas bastante técncio, fruto de um trio musculado, que veio apresentar “With All Their Might”. A banda de Horsham, a sul de Londres, foi bastante profissional naquilo que trouxe ao Minho, com faixas como “Iron Strengthens Iron” ou “Backbreaker”, e o público deu-lhes uma calorosa despedida de Portugal. O palco secundário recebeu a celebração negra dos lisboetas Irae, que ao longo de 40 minutos demonstraram porque são dos melhores nomes do black metal underground em Portugal. 
De tronco nú apesar do frio cortante que percorria a localidade nessa noite, a banda arrancou com “In The Name Of Satan” e até à faixa final, “A Um Passo Do Fim”, tiveram o público nas mãos. A inclusão do tema “Da Brandoa Com Ódio” foi talvez o ponto mais alto de uma actuação ela toda no limite superior da qualidade. Olhando para algumas das bandas que passaram pelo palco principal, fica a questão sobre se não teria sido mais acertado que tivessem tocado lá...

Claro que é impossível reclamar da presença de uma banda como Agathocles no palco principal.
Activos desde 87, a banda de Frederickx tem aberto o caminho a muita banda que escolhe o grindcore como género de expressão, e em Barroselas apresentou um alinhamento que percorreu discos como “Theatric Symbolisation Of Life” ou “Black Clouds Determinate”. Quase três dezenas de temas em pouco mais de cinquenta minutos de uma actuação enérgica dos belgas, com o público que segue a banda a delirar com “Electrifarce” ou “The Fog”. Poucos minutos de intervalo neste eterno jogo de ténis gigante que nos faz percorrer o pouco espaço entre palco principal e secundário, e somos brindados pelo stoner rock dos suecos Suma. Alguns problemas com o suporte e encaixe de um dos bombos e a actuação atrasou alguns minutos, o que fez com que muitos aproveitassem para jantar, enquanto não entrava em palco o prato principal da noite de encerramento. Mesmo assim, uma boa plateia para passar em revista 15 anos de carreira, mas com especial atenção a “The Order of Things”, o último registo da banda de Malmo, que ao vivo soa bastante mais a doom que stoner sludge.

A bandeira norueguesa colocada na vertical, a desenhar uma cruz invertida, antecipava o que se iria passar em seguida. O regresso a Barroselas, 12 anos depois, dos Carpathian Forest. Cabedal, picos, corpse paint, tatuagens de runas... um dos exponentes máximos do black metal norueguês têm-se mantidos ao seu som característico, apesar de algum experimentalismo aqui e ali (cover de “A Forest” dos The Cure incluída). Nattefrost, o carismático vocalista, esteve bastante contemplativo da plateia que lhe ofereceu uma excelente enchente na sua actuação, com muito contacto físico com quem estava na linha da frente, enquanto distribuia muita bolacha (!!!). Isto enquanto uma excelente banda debitava clássicos como “Morbid Fascination Of Death”, “Black Shinning Leather” ou “Suicide Song”, bem como a cover “All My Friends Are Dead” dos Turbonegro. Houve ainda espaço para novos temas, num concerto espectacular e quase perfeito.

Da Noruega vieram também os Nekromantheon, que encerraram o palco secundário desta edição do SWR Barroselas Metalfest. Um thrash tradicional com atitude, num quarteto com dois membros dos Obliteration, que tinham encerrado esse mesmo palco na sexta-feira. A plateia é que já não era muito numerosa, pois muitos tiveram de se meter ao caminho para regressar a casa e trabalhar no dia seguinte. Quem ficou foi brindado por uma excelente prestação da banda que encerrou o palco principal desta edição do festival, os japoneses Church Of Misery. Muita curiosidade para ver como funcionava a tecnologia utilizada pelo vocalista em palco, que parecia arrancar sons do ar, e as músicas com letras que versam serial killers verdadeiros e suas proezas mais macabras. Com uma formação totalmente renovada pelo líder da banda, o baixista Tatsu Mikami, os COM mostraram um potente stoner rock que acabou por abrandar o ritmo da locomotiva que foi esta 21ª edição do SWR Barroselas Metalfest.

Desce a cortina na edição de 2018 com um saldo extremamente positivo, facto a que não foi alheio o excelente tempo que esteve no fim de semana. As actividades paralelas estiveram sempre muito concorridas e é excelente ver o cuidado que a organização dá a todas as bandas que por ali passam, todas elas com o importante espaço de merchandising, muitas vezes fundamental no impacto financeiro de uma banda. O próprio material do festival tem melhorado a olhos vistos. E não passou despercebida a data para a 22ª edição: 26 a 28 de Abril de 2019! Até para o ano, Barroselas!

Reportagem por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: SWR