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Reportagem: Resurrection Fest 2018 - Dia 0 @ Viveiro, Espanha - 11/07/2018


Teve lugar entre 11 e 14 de Julho a décima terceira edição do Ressurection Fest, um dos mega festivais dedicados à música mais pesada, que acontece em Espanha. Para a edição deste ano, a localidade de Viveiro, no extremo mais norte da Galiza, recebeu os cabeças de cartaz Kiss, Scorpions e Ghost, numa maratona de mais de 100 bandas repartidas por quatro palcos.

A festa começou logo na tarde de 11 de Julho, o já tradicional Dia Zero do Resurrection. Para quem decidiu deslocar-se no dia anterior ao início oficial do festival, as recompensas eram de grande valor. Pelas 17h30, perante um público ainda escasso mas com vontade de se divertir, a banda de hardcore galega Golpe Radikal entra no palco Ritual. A mensagem de protesto das suas letras é bem recebida, especialmente as que fazem parte do seu segundo disco, “Sombras” (2017). O mosh foi constante e a actuação terminou com uma wall of death em grande estilo.

Os asturianos Teksuo foram os senhores seguintes, com uma prestação que teve problemas técnicos nos primeiros dois temas mas que foi sempre em crescendo a partir de "The Swarm". Destaque para faixas como "The Negative Breed", do novo EP "The Road of Life" ou "The Hands of War". Outro destaque para o vocalista Diego, que não parou de animar o público por um minuto, mantendo-o nas imediações do Palco Ritual.

Já com uma plateia muito razoável para um dia de recepção ao campista, os britânicos The Qemists trazem até Viveiro o rock electrónico apresentado no seu último disco de originais, “Warrior Sound” de 2016. Excelente reacção do público à performance do duo de vocalistas apoiado em guitarra, bateria e DJ, que criam um clima muito divertido e descontraído. Impossível não bater o pé, mesmo quando se aventuram pelos terrenos do drum’n’bass. Excelente a prestação ao vivo da faixa “Take it Back”, que a banda gravou em parceria com os Enter Shikari, e que foi sem dúvida a favorita do público.

Quando os relógios batiam as 21:00s, já os Riot Propaganda criavam o caos na plateia, com o público maioritariamente espanhol a entoar todas as faixas do supergrupo resultante da união de integrantes dos Habeas Corpus e Chikos del Maiz, com ajuda de DJ Plan B. De camisa e calças vermelhas e gravata preta, a banda de rap/metalcore trazia o seu último disco “Agenda Oculta”, e muitos dos presentes estavam ali por eles. O seu rap metal com atitude punk deixou todos a saltar e a pedir por mais. Os três MCs - Toni, Nega e M.A.R.S – foram intercalando as suas músicas com denúncias sobre situações do mundo nos campos político e social. Destaque para “Bienvenido al Paraíso”, “El Miedo Va a Cambiar de Bando” e “A La Huelga”, mas o toque final foi mesmo com a música que dá título à banda, “Riot Propaganda”, cantada por centenas de gargantas em uníssono.

Entretanto, caía já a noite sobre o recinto quando Jello Biafra iniciou a sua actuação. Vestido com um casaco comprido turquesa, que rapidamente despiu para revelar uma t-shirt com o slogan “Trump hates me”, Biafra brindou a plateia com um desfilar de êxitos dos Dead Kennedys, intercalados com várias declarações políticas contra o Presidente dos EUA. Os clássicos estavam todos lá, de “Too Drunk To Fuck” a “California Uber Alles”, passando por um especial “Nazi Trump Fuck Off” e terminando com um apoteótico “Holiday in Cambodia”. 50 minutos intensos, onde o mosh e crowd surfing nunca parou.

Mal terminou a actuação de Jello Biafra, o recinto foi brindado por um ligeiro aguaceiro, que serviu para refrescar o corpo e em palco tudo estava pronto para a actuação dos Ministry. 
Um enorme galo insuflável com a cara de Donald Trump e o símbolo anti fascista no peito surge do lado esquerdo do palco, e a banda de Al Jourgensen entra ao som da intro “I Know Words”, para imediatamente atacar “Twilight Zone” e “Victims of a Clown”, ambas do mais recente “AmeriKKKant”, sempre com Trump em imagem de fundo. A banda de metal industrial continuou com "We Are Tired of It", "Wargasm" e "Antifa", durante o qual bandeiras anarco-comunistas são agitadas por dois membros da entourage da banda. Ao mesmo tempo, a letra da música é mostrada nos ecrãs de fundo. Crítica do quadro político-social mundial e, especialmente, o americano, a banda concentrou grande parte da sua raiva em Trump, obviamente, massacrando repetidamente o já mencionado galo insuflável. O público esse parece dividido entre quem acompanha a vertente mais industrial do metal e quem não é particular fã dela, mas aos primeiros acordes de "Just One Fix", "N.W.O." e "So What", a tripla escolhida para encerrar a sua actuação, parece que as divergências se esbatem e a banda de Chicago recebe uma enorme ovação.

O supergrupo de RAP metal Powerflo foi o escolhido para encerrar o Dia Zero do Resurrection Fest e não deixou os créditos por mãos alheias. 
O público, já na casa dos milhares, estava deslumbrado por ver diante de si estrelas como Sen Dog (Cypress Hill), Billy Graziadei  (Biohazard), Roy Lozano (Downset), Christian Olde Wolbers (Fear Factory) e Fernando Schaefer (Worst). E a banda não se fez rogada, cativando todos com os temas do disco de streia “Powerflo”, com destaque para “The Grind”, “Victim of Circumstance” ou “Where I Stay”. Mesmo com o show encurtado em 15 minutos para poder terminar à hora prevista pela organização, tivemos uma actuação de luxo, encerrando esta apresentação ao festival da melhor maneira. 
Bom prenúncio para os dias seguintes...



Texto e fotografias por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: Resurrection