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Bosse-de-Nage - “Further Still” Review


A abertura de blast beats e tremolo picking de “The Trench” consegue abrir os ouvidos para uma descarga de black metal, com a voz de B. a soar agressiva e acusadora, como a de J.R. Hayes dos Pig Destroyer, com a bateria a quebrar a rotina com pontuais breaks e fills a lembrar Elliot Babin dos Touché Amoré. 

Este tema termina tal como começou, abruptamente. E assim estamos perante o lançamento mais recente dos Bosse-de-Nage, cuja sonoridade se aproxima dos Deafheaven, mas sem os devaneios instrumentais pelo shoegaze. Mesmo em “Down Here”, o baixo entra como que em aviso do ataque de brutalidade (nos instrumentos) e agonia (na voz) que se irá desfilar pelos seguintes minutos, sem momentos para respirar. 

A força da secção rítmica mantém-se evidente em “Crux”, o que mantém o tema numa contensão sonora, quase sem momentos de libertação. Com efeito, opressão é a palavra que melhor descreve este disco, com a bateria e o baixo no papel central, com a voz a servir de veículo perfeito para as letras que parecem descrever um filme de terror. 

“Listless” surge como um dos pontos altos do disco, conseguindo um maior equilíbrio entre o peso da secção rítmica, a agonia da voz e os riffs cortantes de guitarra. E como se de um filme se tratasse, “Dolorous Interlude”, traz um momento de repouso a meio do álbum com sons a evocar um quarteto de cordas numa atmosfera negra e nebulosa, a recordar algumas passagens instrumentais de “Monotehist” dos Celtic Frost.

A segunda metade de “Further Still” surge revigorada, com a energia de “My Shroud” a elevar o som da banda acima da opressão sonora anterior, aproximando-os mais da sonoridade dos Deafheaven. Esta tendência sonora mantém-se até ao final do disco, com alguns rasgos de luz na escuridão em “Vestiges”.

Com efeito, “Further Still” é um disco que funciona como um conceito que percorre um determinado caminho sonoro e lírico, mas oferece poucas variações de dinâmica, não indo além daquilo que é oferecido noutros discos do género. Não deixa de ser um caminho interessante, ainda que não convide a regressos frequentes, e pode vir a prometer uma maior maturação do som da banda. Daí, dou destaque para “Sword Swallower” e “Listless” como os pontos altos do disco, por serem os temas mais variados do ponto de vista sonoro.

Nota: 6/10

Review por Raúl Avelar