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Reportagem: Festival Bardoada e Ajcoi 2018 - Dia 2 @ Pinhal Novo - 06/10/2018


O segundo dia do Bardoada Fest começou pontualmente às 15 horas, com a entrada em palco dos Cigarette Vagina, a jogar em casa, pois são oriundos do Pinhal Novo. Após um período sem dar notícias, a banda decidiu regressar este ano, mas o concerto do Bardoada acabou por ser bastante atípico para a banda de stoner rock. Com problemas na voz, Ramiro Domingues não conseguiu dar o seu contributo, pelo que a banda apresentou um set exclusivamente instrumental, o que para o género de música que executam, acabou por ser bastante interessante.

E se uma banda regressa aos palcos, outra anuncia o seu término. Foi o caso dos caldenses Challenge, um dos expoentes máximos do hardcore da cidade de Rafael Bordalo Pinheiro. Em pouco mais de 30 minutos de energia extrema, notou-se a necessidade de encerrar este capítulo com chave de ouro, com Edgar bastante interventivo e a passar em revista a história e as amizades, uma delas FAC dos Grankapo, convidado para em palco ajudar na versão de “Young til I Die” dos 7 Seconds. Destaque para a entrega em “Love/Hate” e o clássico “Clobberin’ Time”. Independentemente da decisão para encerrar actividade, este foi um enorme concerto por parte dos Challenge, e que fica já a deixar saudades!

Os Diabolical Mental State substituíram no cartaz do Bardoada os Steal Your Crown, cujo vocalista Diogo atravessa um período menos feliz da sua saúde, mas o facto não foi esquecido por Apache Neto e companhia, que fizeram questão de lhe dedicar "Home Invasion". Para o concerto no Pinhal Novo, os Diabolical trouxeram na mala algumas novidades, como foi o caso de “The Town” e “Children Of The Tides”, que serão incluídas num próximo registo fonográfico. Com uma actuação sempre interessante e muito mexida, “Diabolical Crew” foi dedicada aos seus fãs, perante uma plateia que registava muito melhores números que no dia anterior.

Os Pântano substituíam também eles uma banda que teve de ser retirada do alinhamento do festival, os Dalai Lume, que atravessam um período de reformulação na posição de guitarrista. 
A banda que reúne elementos dos WAKO, Subversive e Low Torque atacou assim que pisou o palco, com “Afinal era o Fim”, mas foi com “Inferno” e “Semi-Alma” que a banda conseguiu cativar as boas dezenas de espectadores que começavam a colocar uma boa moldura humana ao evento. 
Sempre interventivo, o vocalista Nuno Rodrigues mostrou toda a vertente southern rock com um excelente “Cabrão Nefasto”, a deixar muita expectativa na direcção que a banda irá tomar num futuro mais próximo. 
A ver atentamente...

Vindos de uma excelente prestação no Back to Skull da semana passada, os alentejanos Ho-Chi-Minh trouxeram o seu metal contemporâneo até Pinhal Novo, apoiados no novo EP “Ashes”, prestes a ser editado “mas que está a ser tipicamente alentejano e ainda não chegou”, palavras do sempre divertido Skatro, vocalista da banda. Mas com ou sem EP, a banda demonstra que podemos confiar nas bandas fora da rota Lisboa-Porto, dando um enorme show frente a uma frente de palco finalmente “invadida” de gente. Apesar das novas músicas serem excelentes, foi bom ouvir “Liar” e ver algumas centenas de pessoas a saltar perante a versão habitual de “Enjoy The Silence”, dos “mega ultra death metal” Depeche Mode.

No Bardoada, a organização liderada por Igor Azougado faz questão em manter os horários rigorosos de início de concertos, e isso implica que o soundcheck seja feito o mais rapidamente possível, sob pena da banda ter de encurtar o seu set para permitir à banda seguinte começar à hora. Até ao momento isso ainda não se tinha verificado, mas problemas na ligação dos instrumentos à munição de palco fez com que a prestação dos Kandia começasse com largos minutos de atraso. Após alguns anos de ausência do Bardoada, a banda da cidade da Maia regressou com vontade de melhorar a sua prestação no festival, uma das melhores atuações de sempre, segundo a vocalista Nya Cruz. O som estava perfeito e “Alone”, editado no verão do ano passado, fez perceber que estávamos com saudades do goth rock da banda nortenha. Percorrendo a década de carreira, começando com “Grown Up”, o seu primeiro tema de sempre, foi com alguma pena que vimos a banda ter de abandonar o palco sem terminar o alinhamento previsto.

Com o público a aproveitar os minutos entre bandas para se alimentar na zona de restauração do evento, começa a ecoar na instalação sonora a música “Playback” de Carlos Paião. Em palco, os lisboetas Grankapo representavam o hardcore com o entusiasmo que os caracteriza. Rui “Fuck” Correia esteve imparável em palco, incitando a uma frente de palco mais interventiva, enquanto João Lima e Sérgio B faziam a festa com saltos enormes. Para quem conhece Grankapo, falta aqui falar do Miguel Santos, mas infelizmente não foi possível a sua presença nesta edição do Bardoada, pelo que foi em versão quarteto que a banda atacou “Man Killing Man”, logo seguido de uma excelente rendição de “Private Hell”. “Left For Dead” continuou a demonstrar a qualidade do disco de estreia “The Truth”, editado no já longínquo ano de 2011, e é urgente meter cá fora o seu sucessor. “My Son”, “Feel My Hate” e especialmente a nova “Won’t Fall Down” foram já tocadas com bastantes problemas na munição e pedal de distorção de Miguel, que ia impedindo a guitarra do Sérgio de se mostrar. Nunca desanimando face às contrariedades, a banda teve ainda ganas de tocar mais um punhado de faixas, terminando como é costume com “Grankapo”.

No alinhamento era tempo de entrar no “bailarico grindcore”, a cargo dos Serrabulho. Carlos Guerra é um frontman como não há em Portugal. Poucos são os que passam mais tempo no circle pit a vociferar letras cheias de ironia do que em palco, mas é exactamente isso que a banda faz, com intros de techno e italo pop a anteceder pedradas com nomes tão interessantes como “Pentilhoni Nu Culhoni”, “B.O.O.B.S” (que contou com a ajuda de Sérgio Afonso dos Bleeding Display), “Public Hair In The Glasses”, “Quero Cagar E Não Posso” e “Caguei Na Betoneira”. Um comboio iniciado pelo vocalista e que contou com a quase totalidade do público do recinto, uma versão impecavelmente grind de “Sweet Child’o Mine” dos Guns’N’Roses e um desafio para mergulhar do alto do PA foram apenas alguns dos momentos de uma grande actuação, que deixou o palco e plateia cheia de espuma de almofada.

O hardcore regressou ao palco pela mão dos Reality Slap, e rapidamente os amantes desta sonoridade encheram o mosh pit. Dez anos de carreira celebrados este ano fazem dos lisboetas um quinteto bastante experiente, apesar de ainda bastante jovens. Na mala trouxeram temas do seu mais recente trabalho, “Limitless”, com “Blaze” a dar início à festa. 
A banda mostra sempre toda a sua agressividade em palco, com o Johnny a apelar ao movimento na frente de palco. 
Destaque para “Escapist”, “Lone Wolf” e “The Animals”.

Meia noite e um enorme pano negro com o desenho que celebra os 25 anos dos Simbiose voa sobre a bateria. Banda líder do grind/crust português, Johnny e companhia cantam o nosso “Total Descontrolo” perante governo, empresas e estado geral das coisas, numa prestação impecável e que, infelizmente, ficará marcada na mente de quem assistiu por ter sido a última actuação de Sérgio “Bifes” Curto, que viria a falecer num acidente de viação quando regressava a casa depois do festival. “Modo Regressivo”, “Acabou A Crise, Começou A Miséria”, “Zoo Não Lógico”, “Pointless Tests” ou “Terrorismo De Estado” percorreram a carreira da banda, que terminou com “Betrayel” cerca de 40 minutos de sangue e suor, ficando as lágrimas reservadas para a madrugada de domingo. Entretanto, e enquanto escrevemos esta reportagem, a produção do Bardoada Fest anunciou já que a partir da próxima edição, será sempre feita uma homenagem ao Bifes. Bem hajam!

O encerramento da edição de 2018 do Bardoada coube aos Bizarra Locomotiva e a plateia encheu para ver a banda de Miguel Fonseca. Aliás, pelo número de t-shirts da banda presentes, algo até então imperceptível, é seguro dizer que a grande maioria dos presentes esteve apenas para ver o espectáculo da banda de rock industrial de Lisboa. Com um Rui Sidónio sem o habitual “casulo” de plástico negro, que vai despindo durante a sua atuação, mas a manter a sua capacidade física de correr quilómetros em cima do palco, os clássicos foram desfilando, de “Growth” a “Mortuário”, de “Cavalo Alado” a “Os Grifos De Deus”, e o encerramento da festa com os habituais “Anjo Exilado” (com invasão pacífica do palco) e “Escaravelho”, com Sidónio bem no meio da plateia.

Fim de festa, dois dias com vinte e duas bandas, que só pecou pela fraca afluência de público no primeiro dia, talvez sendo a edição do festival com pior registo de espectadores, algo que em nada belisca a organização, que se mostrou perfeitamente à altura de um evento deste calibre. Fica o desejo de continuidade e que o público se capacite que é com a presença em festas destas que se honra o underground e o movimenta.

Texto e fotos por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: Festival Bardoada e Ajcoi