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Entrevista às Burning Witches


"Dance with the Devil” já se encontra disponível, com muita magia, garra, energia e tudo o que se pode esperar de um álbum das Burning Witches. Com os seus concertos juntamente com Ross The Boss adiados devido à COVID-19, aproveitámos para conversar um pouco com Laura Guldemond, a nova vocalista da banda originária da Suíça. O novo álbum, o Wacken Open Air, o desrespeito e a discriminação no Heavy Metal são alguns dos assuntos que abordámos. Eis o que Laura tem a dizer.

M.I. - Desde já enviamos os cumprimentos da parte da equipa da Metal Imperium, obrigado por nos concederes esta entrevista, Laura. É uma grande honra para todos nós. Como estão a correr as coisas, tendo em conta a situação atual com o novo Coronavírus?

Olá! Sim, está tudo muito mal. Queríamos mesmo tocar novas músicas para todos, estamos realmente desapontadas. Na verdade, estamos agora a escrever novas músicas, até porque não temos muito para fazer. Também tenho estado a desfrutar do tempo, porque ontem foi um dos dias mais quentes até agora depois do inverno e isso é algo muito bom. 


M.I. - ­Portanto, já lá vão 3 anos desde o lançamento de “Burning Witches”, o primeiro álbum de todos. Penso que podemos dizer que tem sido uma grande caminhada, com dois álbuns de estúdio e algumas tours de sucesso, incluindo uma atuação num dos maiores palcos: o Wacken Open Air, em 2019. “Dance with the Devil” foi recentemente lançado e é o terceiro álbum da banda. Fala-nos sobre o processo de gravação. Que desafios tiveram de enfrentar?

Foi tudo novidade para mim, claro. Se quisermos retroceder até ao início, tive a audição e segui para o primeiro concerto que já tinha sido planeado. Deram-me uma nova música que queriam ver gravada para mostrar ao mundo a nova vocalista. Aconteceu tudo muito rápido: houve uma primeira música que me daria uma ideia sobre como seria o processo de gravação. Foi positivo saber como é que isso se processaria e fez-me sentir confortável com todo o processo no final, até porque estava algo nervosa para saber se as pessoas iriam gostar da minha voz e isso deu-me um pouco de força para o resto. As pessoas ficaram todas muito tristes quando a Seraina saiu. No entanto, de um modo geral parecem gostar da minha voz. Mas, honestamente, agora que o álbum foi lançado, estou muito feliz pelo resultado e, eu pelo menos, faço isto para que as pessoas possam desfrutar e se as reações fossem demasiado negativas, não estaria feliz. Mas foram muito positivas, por isso estou contente!


M.I. - Este processo de gravação é algo que sai naturalmente, que é improvisado ou é algo que é cuidadosamente planeado ao detalhe?

­Não até ao mais ínfimo detalhe, mas gosto de me preparar muito bem, por isso escrevo as músicas em casa. Contudo, as gravações são feitas no estúdio. Para a balada, enviaram-me a versão em guitarra acústica e só comecei a gravação até ter a versão de estúdio, porque é ótimo ter o som de todos os instrumentos e, em seguida, fiz gravações em casa. Gravei também as principais partes de voz e tudo o mais tal como queria. Por vezes, houve partes que considerei fáceis, pelo que achei que não teria de as gravar, e assim foi. No entanto, às vezes gosto de experimentar algumas coisas e experimento-as em casa para saber exatamente o que quero fazer no estúdio. Até levei o meu portátil comigo para verificar todas as partes, porque gosto de verificar tudo novamente devido ao facto de que, por vezes, penso “É mesmo isto!” e quero fazer exatamente como o que planeei. Mas deixámos muitos detalhes de fora devido à montagem em estúdio. Tudo soa diferente, estamos no momento, é preciso gravar tudo de raiz mais uma vez e, naquele momento, acabamos por pensar em algo melhor e em coisas diferentes. Mas tivemos tempo para que isso acontecesse, por isso foi bom. Quanto aos detalhes e pequenos efeitos, estou agora a recorrer ao Reaper porque é mais fácil de gravar a voz, sobrepor cada parte e selecionar aquela de que mais gosto. É ótimo para demonstrações, mas ainda me falta descobrir como criar efeitos. Portanto, não tenho feito isso em casa. Foi bom fazer esse tipo de coisas em estúdio. 


M.I. - Além das mudanças óbvias, tendo em conta que este é o teu primeiro álbum com as Burning Witches, que outras diferenças podemos ver (ou melhor, ouvir) entre “Dance with the Devil” e, por exemplo, “Hexenhammer”, o álbum anterior?

É um pouco mais diverso no que respeita aos estilos que podemos encontrar, uma vez que é inspirado nos anos 80. Existe material melódico ao estilo antigo dos anos 80. Pode haver algo que nos tenha escapado, mas a parte melódica está lá presente de qualquer modo. Por isso, o “Hexenhammer” foi sempre muito diverso, mas penso que este álbum é ligeiramente mais diverso. Não consigo encontrar grandes diferenças. Tentámos mais uma vez criar uma mistura com um som ao estilo “old school” e ao mesmo tempo moderno e penso que o resultado foi bastante bom. 


M.I. - E tiveram reações muito positivas até agora! Que tal é a sensação?

Sim, tivemos uma análise de 10/10 no Reino Unido e uma de 80/10 pela Blabbermouth e isso foi muito, muito bom. Tivemos outra análise de 80/10 nos Países Baixos, portanto, estou satisfeita. Além disso, acabámos por entrar no Top do Reino Unido. Penso que nos estamos a desenvolver cada vez mais numa banda mais diversa e creio também que a Sónia está cada vez mais a desenvolver o seu próprio estilo, do qual gosto imenso. Acho que me contactaram no momento certo, porque embora haja coisas que gostaria de fazer melhor com a minha voz, estou muito contente com aquilo que me tornei enquanto vocalista. Por isso, estou contente por ter feito isto e acho que foi muito bom que me tenham contactado no momento certo, porque se me tivessem contactado nos inícios da banda, por exemplo, não teria sido capaz de corresponder às expetativas. Por isso, foi pelo melhor que não tenha estado na banda nessa altura, para ser honesta.


M.I. - Existe alguma música do novo álbum que considerarias a tua favorita?

Não, porque já percebi que de cada vez que o ouço, há uma nova música da qual gosto mais nesse momento. E não é propriamente estranho, porque é um álbum claramente muito diverso! Por isso, se o ouvir, é capaz de me manter muito envolvida e entretida, uma vez que é tudo um pouco diferente. No entanto, isso também significa que sempre que o ouço, existe outra música da qual gosto mais nesse momento. Portanto, de um modo geral, gosto mais da “Black Magic” porque é aquela que desperta mais emoções em mim, mas noutras ocasiões gosto da “Final Fight” por ser tão alegre e a música mais pesada do álbum. Às vezes, gosto da “Dance with the Devil” porque fica tão bem no ouvido e gosto ainda da “Wings of Steel” por ser rápida e enérgica. Há algo para todos os gostos. “Sea of Lies” é uma música mais séria e é tão boa… mas se não estiver na disposição para a ouvir, não me desperta nada.


M.I. - “Burning Alive” foi o primeiro álbum da banda ao vivo. Parece que as Witches se divertiram imenso. É algo que podemos esperar num futuro próximo? 

­Sim, claro! Esperemos que, após o final do Coronavírus, nos possamos divertir um pouco!


M.I. - Em relação a isso: achas que esta nova era em que vivemos, com o Coronavírus e tudo o mais, afetou o lançamento deste álbum?

­Claro que após o lançamento de um novo álbum, há sempre concertos, pelo que o número de concertos poderá ser menor do que deveria ser. Não tenho a certeza, para ser honesta, sobre aquilo que vai acontecer. Os concertos não estão a ser cancelados; estão antes a ser adiados, por isso sim… a não ser que isto se estenda por demasiado tempo, caso no qual não há muito que possamos fazer.


M.I. - Em relação a outro tópico, é inegável que a Suíça e Portugal têm uma grande ligação há já muito tempo, tendo em conta que temos várias pessoas a viver e a trabalhar na Suíça. No ano passado, Alenquer contou com a primeira atuação das Burning Witches aqui em Portugal. Fala-nos sobre a tua experiência com a comunidade portuguesa, seja aqui em Portugal ou na Suíça ou até em qualquer outra parte do mundo.

­Gosto muito do povo português, são verdadeiramente acolhedores e foi muito bom estar aí. Já estive de férias no Algarve e foi ótimo. As pessoas são bastante espontâneas!


M.I. - Embora seja um facto que bandas como Samael, Coroner ou Celtic Frost já façam parte do panorama há algum tempo, temos recentemente assistido a uma grande ascensão de bandas de Heavy Metal na Suíça, como Bölzer, Schammasch e, mais recentemente, as Burning Witches também. Como é que explicas o nascer desta nova geração de bandas suíças de Heavy Metal?

­Não sei explicar. Para ser honesta, sou dos Países Baixos, pelo que não faço ideia. Conheço várias bandas, adoro Eluveitie, por exemplo. É uma das minhas bandas favoritas; gosto mesmo muito. Acho que há um grande núcleo na Suíça, bem como bons espaços. Vi o concerto de Demons and Wizards e senti-me como se estivesse num festival. Há ali um grande grupo…


M.I. - Recuando um pouco até ao ano passado, atuaste no Wacken Open Air, o maior palco de todos na indústria do Heavy Metal. Fala-nos mais sobre essa experiência, como é fazer parte disto e partilhar tamanho palco com tantas outras grandes bandas?

Obviamente tive de estar muito concertada, pelo que não consegui desfrutar tanto. Fomos uma das primeiras bandas em palco, por isso sentimos que estávamos a abrir o festival. Havia uma pessoa a apresentar-nos a um grupo de pessoas muito empolgado e foi muito estranho. De repente, ali estamos e já tinha isso na minha lista de conquistas há imenso tempo, porque se trata de um dos mais fantásticos festivais no panorama do Metal, claro. Portanto, foi muito especial, com muito nervosismo à mistura e, claro, foi incrível ao mesmo tempo. E foi também o meu primeiro dia! Foi um presente de primeiro dia muito, muito especial!


M.I. - Tocando num assunto mais controverso, algumas das artistas portuguesas mais notórias no Heavy Metal, afirmam ter sentido alguma forma de desrespeito ou discriminação. No entanto, aquela altura em que o Metal era predominantemente dominado por homens, está cada vez mais longe com as mulheres a conquistarem o seu espaço entre os melhores nomes na indústria. Como é que te sentes ao fazer parte disso?

Bem, acho. Não me deparei com qualquer desrespeito, além dos trolls da Internet. Tenho encontrado músicos extremamente profissionais. Basicamente, se tocas num grande festival, vou assumir que és profissional. Portanto, desde que proves que és mentalmente forte para estar a este nível de profissionalismo, provavelmente também não serás estúpido. Não tenho encontrado pessoas que me desrespeitem até agora. Pelo contrário, tenho sentido muito respeito, na verdade. Talvez seja uma coincidência, mas tem estado tudo bem e nada tem acontecido. Tive essencialmente experiências positivas. Não entendo por que motivo outras pessoas tiveram más experiências. Talvez também eu as tenha, mas não as vejo ou não as levo tão a peito, se calhar. Provavelmente, se pensar nisso, sim, esses problemas existem, mas não é nada diferente de qualquer outro trabalho. Claro que há sempre mais homens do que mulheres, mas nunca senti isso, felizmente. 
Talvez tenha uma boa capacidade de comunicar com as pessoas, porque também faço vendas porta-a-porta, em que é necessário esperar até que alguém abra a porta e, basicamente, garantir que quem abrir a porta nos vai ver como uma pessoa positiva. Portanto, também estou consciente, plenamente consciente, do ponto até ao qual consigo influenciar a reação de uma pessoa em relação a mim. Essencialmente, controlo a reação de alguém para comigo em 90% e tenho consciência disto, e considero que é o que faz toda a diferença. É por isso que não tenho esses problemas, porque estou habituada a tornar a reação das pessoas em relação a mim em algo positivo. Isto soa um pouco estranho, mas penso que é parte do motivo pelo qual nunca passei por este problema.


M.I. - Cinco anos depois do nascimento das Burning Witches, que conquistas foram alcançadas e quais são os planos para o futuro?

Atuámos no Wacken, wooo! (risos) Estamos ansiosas pela tour mundial, porque agora temos a tour europeia que foi cancelada, temos a tour no Reino Unido que foi cancelada ­ e queríamos imenso ir ao Reino Unido, porque gostam imenso de nós por lá ­ portanto, vamos tentar fazer tudo após o fim do Coronavírus. Além disso, esperamos ir aos Estados Unidos e ao resto do mundo. É isso que queremos, por enquanto, pelo menos.


M.I. - Laura, muito obrigado pelo teu tempo, foi uma honra enorme. Desejamos que tenham todo o sucesso do mundo e que a magia das Burning Witches nunca morra. Continuem o bom trabalho.

­ Muito obrigado, até à próxima!

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Entrevista por João Guevara