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Vvilderness - "Dark Waters" Review


Não é a primeira vez, e de certeza absoluta que não será a última, de que a existência de uma banda se restringe na presença exclusiva de uma pessoa, sendo óbvio que a  incumbência e a responsabilidade na concepção de um álbum se incide somente nesta. Nomes como Burzum e Bathory foram produtos e desejos pessoais de personalidades que, em toda a sua carreira, a sua individualidade fez com que fosse o motor de avanço para a concepção de "pérolas" no metal e consequentemente intitulados como clássicos. 

Vvilderness, protejo de Kazumi, oriundo da Hungria, patenteia-nos com  "Dark Waters". Muito próprio, vinculado na exploração de contrastes e uma sonoridade singular, estamos perante a um Post- Black Metal meticuloso e escrupuloso na forma como se apresenta, onde a crueza encontra-se envolvida concomitantemente com o lado mais harmonioso. De forma bem pensada e sentida, é interessante como Vvilderness consegue unir opostos e relaciona-los, criando aqui músicas que possuem quase uma personalidade única. Os vocais, de uma voz singela e clara, são um dos destaques sem sombra de hesitações , com entoações inteligíveis, que fazem de certa forma atenuar a impiedade da sua sonoridade, mas desta vez dando ensejo à voz mais arrastada e gutural.

Iniciar as faixas com um acústico é uma característica perseverante deste projeto, sendo que as seis faixas assim o cumprem, contudo não falamos de um acústico trabalhado ao extremo, mas como forma de preâmbulo do que irá vir, havendo um peso progressivo no decorrer da música. Elementos primários do Black Metal são manifestos, no entanto notamos uma produção com primor, o que contrasta com a essência dos primórdios do Black Metal. Melodia e exploração de modernidade abrandam o lado lúgubre e obscuro que se evidenciam. Indaga-se por intensidades que vão do sereno ao extremo, jogando aqui uma espécie de "montanha russa" que toca estes dois pólos. Guitarras fervorosas, impetuosas e estridentes, com poucas alterações, com o mesmo ritmo, fazem acompanhar a voz doce e branda da vocalista. Existe uma base Black Metal, mas sim imiscuída com um certo misticismo muito singular, no qual entram instrumentos de sopro, entre mais, que dão aqui um tom totalmente único. É preciso ter  em conta que o empenho de preservar uma estrutura quase previsível, de um inicio calmo, passando imediatamente para um extremo hediondo, havendo um jogo inteligente de passagens abruptas, introduzindo no meio o lado mais acústico da banda, estranho, mas uma incessante marca da mesma. 

 A despedida com " Wilderness", marca aqui uma posição de singularidade, indagação na entidade, perscrutando da forma como a " Havasok / Snowy Mountain", com um certo paganismo, ambientes próprios que nas faixas anteriores não eram manifestos, pois aqui não encontramos a convencionalidade dos instrumentos, apenas um som atmosférico, algo muito pessoal. Com a mesma receita e principio de criação, temos a "Mist Pillars'19" e a "It Comes With Rain", que não se distanciam das demais, mantêm os elementos anteriormente citados, o que parece  ser fatal, tornando-se um pouco repetido o uso do acústico, os blast beats e as guitarras padronizadas e uniformizadas  que se restringem ao mesmo. 

Vvilderness é a prova viva de que a individualidade de um músico pressupõe toda a responsabilidade incutida no mesmo e, sendo muito diferente de uma colaboração de vários músicos, é possível quebrar barreiras e limitações tanto a nível de composição e escrita e criar algo muito singular e pessoal, uma forma diferente de considerar um desafio a nível musical e pessoal. 

Nota: 7/10

Review por Norberto Seck