Ainda cheira a 2013 por aqui e não cheira nada mal, o aroma a Sarrabulho paira no ar, aliás fica colado ao céu da boca teimosamente e não parece querer sair tão depressa. Por esta altura, temos, com certeza, a matança do porco consumada, o belo do tinto perfeitamente digerido no sistema digestivo e a fluir na circulação sanguínea, mas à parte da gastronomia regional, os nacionais Serrabulho deixam bem claro, e com resultados já bem visíveis, que são uma banda que sabe bem o que quer e como pretende chegar até lá, já que, ao som da concertina, “Ass Troubles” prova ser o melhor prato na apresentação deste cardápio próprio de uma festa tradicional de Grind Death, se é que tal coisa pode existir.
Com o selo da Serrana Vomit Your Shirt, em parceria com outras editoras de renome nestas andanças, o ingrediente principal deste primeiro registo de originais dos Serrabulho é a boa disposição contagiante, em doses industriais, e quando assim é a música só tem a beneficiar com isso. Retomando este último aspecto, sonoramente a banda demonstra ser instrumentalmente competente, não abusando na paródia em detrimento da sua identidade musical. Vocalmente, o estilo adoptado é o apropriado, por isso esperem a devida homenagem grunhida ao falecido suíno. Para além disso, é um disco poliglota, apresentando temas em Português, Inglês e Francês, todos eles com um sentido de humor extremamente apurado e com uma duração que contribui para que a sua audição não provoque azia. Aliás, é um daqueles casos que até convém repetirmos o prato várias vezes até ficarmos saciados!
Com uma coluna vertebral bem sustentada por elementos experientes no underground nacional, sem dúvida que, os Serrabulho afirmam-se como sendo um valor a ter conta para os próximos tempos na cena grindcore lusa. Pela capacidade de retratar um estado de espírito jocoso, o que nem é de todo fácil, sem perder o rumo da intensidade sonora que propõem, “Ass Troubles” é uma fonte inesgotável de memoráveis hinos para o bailarico . Que comecem as festividades!
Nota: 7.9/10
Review por Pedro Pedra
