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The Gathering - "Afterwords" Review


Há 2 meses atrás, "Afterwords" era apenas um peculiar disco dos The Gathering, diferente de tudo o que banda tinha feito até então, tanto na essência, como na própria composição, que surgiu quase como forma de rescaldo daquilo que foi o lançamento de "Disclosure". Mas após os últimos desenvolvimentos que acabaram com a saída da baixista, Marjolein Kooijman, e a entrada da banda em hiato, "Afterwords" até prova o contrário, pode mesmo vir a ser o último lançamento dos The Gathering, como banda no activo.

Canto do cisne ou não, afinal o que é "Afterwords"? Chamemos-lhe  “uma espécie de compilação”, embora oficialmente este seja o 11º disco da banda. Nele estão incluídos, não só os 3 temas de Afterlights, EP de remixes lançado o ano passado apenas online, mas também mais duas novas reconstruções de temas do disco anterior, uma cover dos New Musik, bem como três novos originais. "Afterwords" conta também com o regresso de Bart Smits, o primeiro vocalista dos The Gathering, com o qual gravaram as suas lendárias demos, bem como o seminal "Always".

Pese embora o carácter sortido do lançamento, a verdade é que existe uma certa linha condutora que torna o disco, à sua maneira quase homogéneo. "Afterwords" pega nas ambiências frágeis mas complexas, do já distante "Souvenires" e eleva-as quase ao máximo, com recurso a vários tipos de programações electrónicas, efeitos sonoros, repetições, overdubs ou outros elementos por norma mais ligados ao post rock ou até mesmo ao darkwave. Componentes certamente não estranhos à banda, mas que nunca antes tinham sido usados de forma tão patente. Fica, no entanto, complicado avaliar a pertinência deste disco, se é verdade que nestes poucos mais de 40 minutos, há muito boa música a descobrir, como disco de The Gathering fica-lhe a faltar temas com mais substância, que possam vir a tornar-se verdadeiros clássicos, ou sequer equacionados para tocar ao vivo, caso a banda volte ao activo.

Fica portanto a reflexão final. De facto os The Gathering nunca tiveram uma carreira fácil. Começando pelas trocas de vocalistas que assolaram os primeiros passos da sua carreira, passando pela difícil gestão de expectativas que discos como "Mandylion" ou "How To Measure a Planet criaram", até à saída de Anneke van Giersbergen em 2006. Juntando a isso a constante associação ao estigma do metal, que poderá porventura ter-lhes valido o reconhecimento de outros públicos. Mas ao contrário de outros nunca se queixaram, mostrando sempre uma excelente, ainda que reservada, atitude. Daí que nunca os tenhamos visto como rockstars, mas sim como uns tipos que sempre puseram à frente de tudo, a sua liberdade criativa, com todas as desvantagens financeiras que isso lhes possa ter trazido.

O resultado desta perseverança até que não foi mau de todo, 9 álbuns que oscilam entre o muito bom e o excelente, um bom disco quase arruinado pela deficiente escolha de vocalistas (pecados que se perdoam a quem ainda está no inÍcio), e este "Afterwords" como último mindfuck, de uma banda que passou os 22 anos da sua carreira, quase sempre a surpreender quem sempre mostrou interesse neles.  

Resta portanto esperar por uma luz ao fundo do túnel, e para já agradecer a Anneke, Bart, Frank, Hans, Hugo, Jelmer, Marike, Marjolein, Martine, Niels, Rene e Silje por tudo aquilo que nos deram durante todos estes anos. 

Nota: 7.5/10

Review por António Salazar Antunes