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Made of Hate – "Out of Hate" review


Corria o ano de 2005, quando uma banda chamada Archeon encantou muitos dos fãs de death metal melódico, graças ao álbum “End of the Weakness”. O colectivo polaco surpreendia pela qualidade de riffs e solos que despontavam por tudo o que era sítio, afirmavam-se com uma roupagem complexa e melódica à la Children of Bodom, influenciada pela música clássica, e pareciam ser uma banda destinada ao sucesso e prosperidade.

Ora, passados nove anos, muita coisa mudou lá para os lados de Varsóvia. Os lampejos clássicos vão desvanecendo álbum após álbum; com a mudança de vocalista, perdeu-se muita da agressividade evidenciada nos primórdios; há uma clara aproximação ao metalcore com a presença de cleans a acentuar-se cada vez mais; a imagem da banda parece ter uma importância excessiva; e as canções soam cada vez mais plásticas e demasiado produzidas. Até o nome mudou e hoje chamam-se Made of Hate. Apesar destas mudanças para pior, a técnica e o talento da banda (principalmente do guitarrista e cabecilha Michal Kostrzynski) continua intacto e isso é o que mais chateia…

Este “Out of Hate” é uma continuação do percurso feito em “Bullet in Your Head” (2008) e “Pathogen” (2010). É mais uma etapa em direcção à modernidade do som, cada vez mais artificial, da banda polaca. Esse é, a meu ver, o grande problema neste disco e no desenvolvimento deste projecto: tudo aqui, ou quase tudo, soa plástico. Temos riffs com qualidade para dar e vender, solos de alto quilate, composições imaculadas, mas as canções não têm alma, nem emoção. Não existe paixão entre todos aqueles ornatos de técnica e virtuosismo, ou se existe, não chega ao ouvinte… A voz de Radek Polrolniczak já era um grande problema em “Pathogen” e continua a ser, irremediavelmente, um grande problema ao longo deste disco. Aliás, esta absência de paixão em muito se deve à voz arrastada e pseudo irada de Radek. Os guturais de Kostrzynski assentavam bem melhor neste tipo de sonoridade, pelo que a alteração é ainda hoje incompreensível.

O outro grande problema dos Made of Hate é a produção exagerada que retira grande parte da tal alma supra-referida. Às tantas tudo aqui é tão limpo e “perfeito”, que se torna doloroso de ouvir. Um som mais sujo e cru iria tornar muitas das canções deste “Out of Hate” em jardas de destruição maciça, sem que fosse preciso alterar grande coisa. Talvez seja mesmo isso que mais aborrece, pois apesar da qualidade daquelas guitarradas estar acima de quaisquer suspeitas, este não é um álbum que esteja a esse nível. A banda disponibilizou uma versão apenas instrumental de todas as canções aqui presentes e a diferença é abominável. Sem as vozes aborrecidas em modo metalcore de Radek, este álbum dobrava os valores de agressividade e interesse.

Apesar de não parecer nos parágrafos acima, este álbum, assim como tudo o que já foi feito por estes polacos, é sinónimo de criatividade e genialidade instrumental. Os Made of Hate têm o dom de agregar aquela beleza bruta da música clássica ao metal e têm também nos guitarristas duas máquinas assustadoras de produção de riffs e solos. Ainda assim, os dois problemas mencionados acima não deixam este álbum atingir voos mais altos. Ao ouvir este “Out of Hate” a ideia de “isto podia ser tão melhor” não para de nos aborrecer e é por isso que a negatividade toma de assalto a opinião de quem ouve este álbum. A título de resumo, este disco é a prova que duas guitarras geniais não chegam para fazer um grande álbum. É preciso paixão e os Made of Hate perderam-na em 2005 algures em Varsóvia.

Nota: 6.1/10

Review por Pedro Bento