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Cult Burial - “Cult Burial” Review

 

No passado mês de fevereiro, os Cult Burial apresentaram o seu EP de estreia, intitulado “Sorrow”. Este trabalho captou imediatamente o interesse da imprensa, pelo som distinto que esta banda londrina apresenta, aliada a uma voz que é de origem portuguesa. O núcleo duro que compõe a banda é formado por Simon Langford, nas guitarras, bateria e composição, e César Moreira, vocalista e responsável pelas letras. A eles juntou-se Felipe Grüber, na segunda guitarra, para gravação do álbum. O que estes músicos nos trazem é um death metal fundido com elementos de black, doom e até algum post-metal. Durante os meses de verão, divulgaram-nos mais dois singles avassaladores, bom prenuncio, na opinião da crítica, para o longa duração que se anunciava. Eis que nos chega então o seu álbum homónimo, com lançamento a 6 de novembro.

O álbum inicia com “Dethroner” e “Moribund”, ambos singles de apresentação, em plena expressividade da energia negra e crua dos seus criadores. “Chaos” começa a ritmo galopante, mas cedo percebemos estar perante uma mutação, relativamente às faixas inaugurais. Esta é a composição mais longa do álbum, com quase 7 minutos, o que é um claro sinal indicador do ingresso por trilhos progressivos. Essa confirmação é-nos dada quando a música abranda e o ambiente fica mais denso, o tom da voz muda e a tensão eleva-se até explodir em pura brutalidade – claramente, este é metal refinado, feito de sangue e desespero. 

Quando chegamos a ”Plague”, o toque de sludge dá-nos finalmente a hipótese de recuperar um pouco do embate dado  pelas primeiras músicas. Mais perto do final, o ritmo acelera novamente, com a bateria e as guitarras em plena provocação do headbanging e da expectativa sobre a segunda parte do álbum. O trio de faixas posterior pode não nos surpreender totalmente face ao que já foi ouvido – o que forma uma das escassas fragilidades do álbum –, mas constitui mais uma manifestação da forma engenhosa com que a banda usa agressividade equilibrada com dinamismo e com as frases cativantes das guitarras. 

“Forever” faz a aproximação do final deste trabalho, estabelecendo perfeita ligação entre os riffs abrasivos e tecnicistas do death metal da velha guarda, com o ambiente mais soturno e melancólico da sua sequente, “Sorrow”, que acaba por ser boa escolha para o encerramento. É nela que o ambiente doom mais se manifesta e que vai progredindo para ritmos em frenética espiral, acentuando a intensidade esmagadora e angustiante do álbum.

“Cult Burial” impressiona pelo modo como está bem construído e pelo desempenho dos músicos. Todos os instrumentos têm o seu espaço, e existe também lugar para o diálogo harmonioso entre eles. Contudo, o resultado melhoraria com um som mais orgânico na bateria ou com uma maior proeminência da viola baixo, pois ambos contribuem substancialmente para o interesse geral do álbum, através de detalhes que avivam as múltiplas audições. A voz faz-se traço de marca na sonoridade da banda, com uma entrega gutural áspera, grave e implacável. Em “Plague” e “Chaos”, por exemplo, temos mesclas vocais interessantes e, se lamentamos não terem sido mais desenvolvidas, isso também se torna engodo para o que poderemos talvez vir a ouvir no futuro. Por outro lado, o trabalho de guitarra é o que mais instantaneamente cativa e revela-se seriamente viciante; é que além da técnica polida, tem um aguçado sentido estético, que é transversal aos variados riffs, leads e solos. 

O produto da combinação de estilos pode não ser revolucionário, mas é tão habilmente trabalhado que em nenhum momento se perde o peso ou a ferocidade viral deste álbum. A alternância entre estilos é, na realidade, feita em prol da dinâmica estrutural de cada música, assim como da globalidade do álbum, sem nunca lesar o sentido de coesão ou a identidade da banda, estando estes aspetos entre os muitos onde a perícia compositiva de Simon Langford se faz evidenciar. A par disso, temos ainda a fluidez geral do álbum, uma articulação entre as 9 faixas bem resolvida, tempo para expirar e inspirar, e a capacidade de nos prender desde o primeiro ao último momento. Em suma, sendo inevitável a questão se este álbum corresponde às (altas) expectativas, a resposta é sim, e de que maneira!

Nota: 8/10

Review por Sara Sousa