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Entrevista aos Mora Prokaza



Em 2018,  Mora Prokaza mudou completamente a sua abordagem de composição e conceito de som e com o lançamento do single ‘Blacker than Black’, a banda reinventou-se e partiu para novos horizontes musicais. Começou a gravar um novo álbum após assinar um contrato com a Season of Mist e, mais uma vez, chamou a atenção do mundo do metal com seu novo álbum “By Chance”. Farmakon, o sempre sarcástico e pungente vocalista conversou com a Metal Imperium sobre alguns assuntos interessantes... as suas respostas são sempre intensas e cheias de humor negro, tal como a sua música... a agressão subjacente na sua forma mais pura ou talvez o olhar filosófico para o crescimento espiritual. Descubram mais sobre esta dupla da Bielorússia aqui…

M.I. - O nome Mora Prokaza surgiu porque soava muito bem em russo. Agora tem uma identidade própria... quão complicado foi chegar ao vosso estatuto atual?

Olá! Sim, o nome soa bem em russo. Acho que em inglês também. Bem, nós inventamo-lo. O nome do grupo para mim, pessoalmente, são palavras totalmente nativas, uma parte integrante, constante, enquanto eu existir, enquanto houver um movimento vivo Mora Prokaza. Quanto ao estatuto - pá, não há estatuto. Como é definido, o que define? Ainda moro num apartamento comunitário, num quarto pequeno, desenho, escrevo música, masturbo-me, como, fumo, ouço a porra de uma velha no quarto ao lado, mijo na mesma casa de banho que ela. E o gato dela fodeu-me. Gato insolente, nojento. Qual é a porra do estatuto? Isto se olhares para o estatuto com um olhar material. E se for um olhar espiritual, o meu estatuto é o mesmo de antes. Eu vivo e crio, amo, odeio, fodo. Também é um negócio espiritual, sabes? E sobre o estatuto, que é determinado pelo número de ouvintes ou menções... Não admites que entre eles haja violadores, potenciais assassinos, tiranos, gordos pervertidos? Entre os ouvintes, entre os que nos mencionam? Apenas pessoas que fazem o seu trabalho por um dólar a hora? Existem filhos da puta em todos os lugares. Sim, e estamos todos no mesmo barco. Somos todos filhos da puta, uns mais, outros menos. O estatuto do grupo é - era, é e será!


M.I. - A obra “By Chance” foi criada acidentalmente, daí o título. Mora Prokaza mais uma vez ultrapassou os limites do black metal, mas não sacrificou nenhuma das suas características específicas, embora não seja comum ver clarinetes e saxofones a ser usados ​​no metal extremo. Como surgiu a ideia de usar estes instrumentos? Foi uma decisão consciente? Qual foi a principal inspiração para “By Chance”?

Pá, estou cansado de fazer a mesma coisa. Bem, não pode ser por o estilo ter permanecido inalterado? Só estou cansado! E isso é tudo. E a questão é – faz algo! Não consigo pensar em nenhuma pessoa que adote um certo estilo de uma maneira muito plana e unilateral. Mas vejo isso de forma diferente. O black metal é a seguinte sequência, visto que é apenas um nome:
  • Condição.
  • Música.
Como toda arte em geral:
  • Condição.
  • Criação.
E instrumentos como clarinete, saxofone... sim, simplesmente os adoro, é só isso. Fod@-se, adoro piano, adoro saxofone, adoro instrumentos orientais!


M.I. - A banda quebrou os caminhos estabelecidos do black metal e conseguiu misturar géneros incompatíveis. Basicamente, vocês são audaciosos. A audácia é algo que falta na cena do metal e da música em geral? Na tua opinião, os músicos têm medo de arriscar?

Depende do que arriscas. Se tens o desejo de ganhar dinheiro, viver um romance em concertos, tornar-te uma pessoa reconhecível, ser popular - então estás em risco. Existem realmente algumas regras, que precisas de seguir. Mas, se tens em jogo, como eu, por exemplo, um desejo permanente de criar, isso é outro assunto. Pá, não existem riscos. Não vou perder nada, não coloquei nada em risco. Vou trabalhar durante um mês numa loja aborrecida de uma grande cadeia, sorrir para as velhas e crianças, e mães malvadas com carrinhos de bebé. Depois, a partir daí vou encontrar tempo para a criatividade. Isto é o que eu faço. Por falar em coragem, esta é a coragem mais importante: ser tu mesmo! Quando somos quem somos, somos fodidos e terríveis. Experimentamos milhões de tempestades de emoções e sentimentos - e reprimimos muitas. O homem decidiu ser mais esperto que a natureza. A pessoa não gosta da verdade e realmente aprendeu muito bem algumas coisas - diplomacia, política, guerra e astúcia. E, claro, mentiras infinitas em tudo o que vemos, ouvimos e sentimos.


M.I. - O que importa para Mora Prokaza em 2020? A visão de Farmakon para a banda já se concretizou? O que está a faltar? O que é que os Mora Prokaza têm psra oferecer ao mundo? Qual é o vosso objetivo principal?

Eu não tenho propósito. Eu vivo. Tudo está parado - sou dedicado ao meu trabalho. Não existe um plano. Eu crio em momentos. Tudo está no lugar.


M.I. - Vocês lançaram três álbuns através de três editoras diferentes. As reações a "By Chance" foram incríveis, apesar da reação inicial na página da Season of Mist. Esperavam alcançar tantas pessoas com o novo álbum? O que mudou para Mora Prokaza agora que assinaram com a Season of Mist?

Não sei, dizes "muita gente", mas eu não diria isso. E não gostaria que o álbum atraísse muitas pessoas, apenas um número suficiente do "meu" pessoal. Seria justo. Porque eu, nas minhas letras, não digo o que as pessoas querem ouvir. E a música não fala sobre isso.
Quanto ao contrato - certamente ajudou a encontrar mais ouvintes. Mas os fãs da editora não esperavam isto. Eles esperavam o que esperavam. E muitos não conseguiram lidar com eles mesmos. É difícil. Não me falem sobre black metal. Há mais Black metal em mim do que em todos eles juntos. Sem molduras. Coloquem os besouros fora da moldura. Coloquem quem vocês quiserem. Ele vai morrer.


M.I. - A banda lançou alguns vídeos oficiais intensos para as faixas do novo álbum e a 11 de junho de 2020, Mora Prokaza publicou o vídeo “Bad Russian” no Youtube. De onde vem essa faixa, já que não está incluída em nenhum dos vossos trabalhos?

Sim, isso mesmo (risos). Este é um clipe do meu projeto “A.Molby”. Houve um momento de estreita interseção de dois projetos para mim, sim. O vídeo acaba de ser adicionado no canal MP, mas há um nome de faixa. Num ponto pensei - seria incrível para caralho enviá-lo para o canal da banda, vai encaixar bem.


M.I. - Sendo uma dupla, vocês terão a companhia de músicos de sessão ao vivo quando as coisas voltarem ao normal e finalmente puderem promover o álbum? Têm planos para uma tournée?

Sim, estamos a trabalhar num plano de concertos. Estamos a ensaiar. Provavelmente haverá 2 músicos no palco. Oh, quando isso acontecer, tenho um novo álbum pronto. Já o estou a escrever.


M.I. – O Farmakon viveu uma vida muito intensa... é daí que vem a intensidade das criações? Arrependes-te de algo? Já pensaste em escrever um livro sobre isso? Quão importante é a arte para ti como pessoa? Salvou-te de alguma forma?

Sim está certo. Criatividade é tudo na vida, estamos todos vivos. Eu não me arrependo de nada. Oh sim! Tenho pensado nisso há muito tempo. Livro. Sim, penso assim há muito tempo. Tenho algo sobre o que escrever. Estou à espera de uma chamada do meu eu interior. Não me forço a nada.
A arte é importante, claro que é importante. Pá, a arte está em tudo: na capacidade de cagar, escrever publicações científicas, colecionar carros, masturbar, mentir, cozinhar, foder, criar filhos... em tudo. É importante ser capaz de a perceber. Se isso me salvou? Não salvou ninguém ainda, me parece. Este é o caminho. Queres uma reação ao mundo e a ti mesmo, como correr, aulas de ioga, festas de swing, fazer tartes, brigar à noite, foder depois da ressaca.


M.I. - Há uma “Equipa” Mora Prokaza espalhada por todo o mundo. Quão importante é isso para ti como músico? “Alimentas-te” dessa energia e força?

(Risos) É engraçado. Sim, eu como, chupo todas as coisas vivas e depois deito-as fora com absorventes e latas de leite vazias. E vou procurando novas vítimas, ainda sou aquele filho da puta insaciável.
Sim, essas pessoas são reais e isso é porreiro!


M.I. - Por favor, partilha algumas palavras finais com os fãs e leitores portugueses da Metal Imperium.

Olá! Até logo!

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Entrevista por Sónia Fonseca